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De simulados a jogos: Como um professor tem avaliado Matemática com alunos do 5º ano

Com plataformas como a Khan Academy e o Wordwall, o educador Cícero Clácio Santos, de Aracaju, cruza informações e avalia a aprendizagem dos alunos em diferentes níveis para acompanhar seu desenvolvimento

Ilustração feita a partir de colagens de aluno com lupa na mão olhando em tabela com números e sinais matemáticos.
Ilustração: Rafaela Pascotto/NOVA ESCOLA

Matemática é o calcanhar de aquiles de muitas escolas brasileiras e em tempos de pandemia, distanciamento social e ensino remoto, avaliar as aprendizagens da disciplina torna-se um desafio a mais para quem está do lado de cá da tela. É assim que se sente o professor Cícero Clácio Santos, de Monte Alegre de Sergipe (SE), município localizado a cerca de 150 quilômetros da capital, Aracaju. 

Há mais de um ano, Cícero dá aulas remotas para seus alunos do 5º ano do Colégio Estadual José Inácio de Farias e lida, diariamente, com as dificuldades de avaliar no ensino a distância. “Para mim, a avaliação acontece a todo momento durante a aula. Pelo semblante do aluno, é possível perceber o que está aprendendo ou não. Mas avaliar neste período de pandemia é algo muito complicado, porque na Matemática o semblante do aluno diz tudo”, comenta o educador. 

Ao contrário do que muitos dizem, para ele, as dificuldades não diminuíram com o passar do tempo. “Os alunos vão se cansando do ensino remoto e sentindo falta da sala de aula”, explica. Para manter o interesse dos alunos pelas aulas, Cícero olhou para as próprias práticas, identificou o que era possível adaptar e o que tinha de recursos para avaliar os estudantes do Fundamental 1.

Avaliação com três ferramentas

Hoje, ele conta com três ferramentas que utiliza como estratégias para fazer avaliações: Aprova Brasil, plataforma desenvolvida pela Editora Moderna e oferecida em Sergipe pela gestão estadual, a Khan Academy, plataforma que oferece exercícios e vídeos educativos, e o Wordwall, plataforma de jogos virtuais. 

Pelo Aprova Brasil, os alunos fazem simulados on-line, cujos resultados são utilizados na avaliação. Na Khan Academy, o estudante tem a opção de buscar dentro da própria plataforma vídeos que o ajudem a desenvolver determinada questão. O professor, por sua vez, recebe o feedback da ferramenta sobre o que foi consultado pelo estudante. Já no Wordwall é possível criar jogos com questões para avaliar como estão os conhecimentos de Matemática dos alunos. 

Ao final das avaliações, Cícero cruza as informações obtidas por meio das três ferramentas. “Ao fazer as corretivas do Aprova Brasil com os alunos, observo o que eles erraram e o porquê. Então, comparo com as devolutivas da Khan Academy e com as fases do jogo que erraram no Wordwall”, conta. Em seguida, o professor prepara uma aula para trazer os problemas apontados nos resultados. 

Participação das famílias

Mas não são só as ferramentas que ajudam Cícero a avaliar os estudantes. Ele diz que a participação das famílias têm sido crucial nesse processo. “Tenho recebido o feedback de muitas mães, uma vez que a maioria acompanha o desenvolvimento dos filhos e elas falam das dificuldades desse período em casa”, conta, referindo-se, principalmente, às famílias dos alunos de uma das suas duas turmas de 5º ano.

“Somos de uma região não muito rica e temos duas turmas bem díspares: uma tem recursos para estudar e a outra não. Em uma, os alunos estão na idade certa para o 5º ano, na outra tenho alunos mais velhos. É justamente essa turma que tento atrair mais com os jogos, para mostrar que é divertido aprender. Para participar dessas atividades, eles recebem a ajuda de familiares que possuem computadores e internet banda larga e também têm mais prazos para responder às questões”, conta Cícero.

Os alunos que têm mais dificuldades de acesso à internet e a equipamentos eletrônicos contam com materiais impressos, disponibilizados na escola duas vezes por semana, e livros didáticos da Prova Brasil. O professor, que geralmente dá aulas síncronas, também utiliza o WhatsApp para enviar atividades escritas, em áudios e em vídeos comprimidos, além de manter a proximidade com a turma. 

Níveis de aprendizagem 

Para avaliar, Cícero e os colegas da escola têm utilizado três diferentes níveis: aprendizagem em desenvolvimento, aprendizagem desenvolvida e aprendizagem consolidada. “Dependendo daquilo que a gente espera por idade e turma, verificamos se o aluno desenvolveu conhecimento suficiente ou está caminhando para aquele nível, se já desenvolveu habilidades para dar um passo maior. Só dizemos que a aprendizagem está consolidada quando percebemos que o aluno tem as habilidades garantidas daquele ano para estudar no ano seguinte”, ressalta. 

No fim do semestre, além das ferramentas já utilizadas, o professor, que é polivalente, aplicará uma avaliação interdisciplinar com conteúdos de várias disciplinas. “Quero consolidar o conhecimento de cada aluno na resolução de problemas e verificar se vai conseguir desenvolver o que aprendeu de forma prática. Quero saber se tem condições de interpretar o problema que vai encontrar e, mesmo que não saiba encontrar a solução, que consiga encontrar o caminho”, completa.

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