PARA INCLUIR TODOS

Inclusão: Como acolher alunos com deficiência na volta ao presencial

Além de uma relação próxima com professores de AEE e com as famílias, conversar com educadores que atenderam as crianças em anos anteriores e incluí-las no respeito aos protocolos contra a covid-19 são pontos importantes

Animação criada a partir de fotomontagem demonstrando a diferença entre expectativa e realidade das crianças pequenas no período de aulas remotas.
Créditos: Duda Oliva/NOVA ESCOLA, Getty Images, Vlada Karpovich e Marcus Aurelius/Pexels

“A pandemia acirrou a desigualdade na Educação e, no caso das crianças com deficiências, essa diferença ficou muito mais clara." Quem faz tal afirmação é a educadora e consultora em educação inclusiva Maria da Paz Castro. Segundo ela, essa assimetria pode ser sentida em vários aspectos: no acesso à tecnologia, na forma como os protocolos de saúde são tratados, nas ofertas de recursos para a aprendizagem.

Com a interrupção das aulas presenciais, as crianças perderam o espaço físico da escola, o que teve impacto ainda maior na vida dos alunos com deficiência da rede pública. “Mais do que os outros, eles precisam da escola para o seu desenvolvimento, em vários aspectos. A pandemia os privou disso, e nem sempre as famílias, em suas casas, puderam suprir essa ausência”, aponta Maria da Paz.

Ela lembra que, quando as crianças com qualquer deficiência vão para a escola, elas têm a oportunidade de se relacionar com a diversidade, o que é extremamente terapêutico - um efeito que foi perdido com os meses de isolamento. “Na escola, elas vivem momentos em que a deficiência não importa, podem ser vistas como as outras crianças. Isso não aconteceu nesse um ano e meio”, explica. 

Na prática, esses alunos devem sentir muita dificuldade no retorno. Maria da Paz lembra que eles enfrentaram mais desafios para acompanhar as aulas remotamente, ainda que tenham tido acesso à tecnologia.  

A volta, portanto, será marcada por muitas defasagens curriculares. Para dar conta dos desafios, o professor de sala terá de fazer contato o quanto antes com os professores das salas de Atendimento Educacional Especializado (AEE). Maria da Paz insiste ainda que é essencial que os educadores firmem parcerias para trabalharem juntos no desenvolvimento dessas crianças. 

“Vejo muitos educadores de fato comprometidos, preocupados, e isso faz muita diferença”, garante. Ela aponta que o melhor caminho para o atendimento é que o professor de sala dialogue com o professor especializado, que atenderá a criança no contraturno, sobre as possibilidades e as dificuldades de cada estudante com deficiência. 

Além da criança, a família também precisa de atendimento. Os pais podem contribuir contando para a escola como foi o período do filho na pandemia, o que acha que ele aprendeu nesse tempo, quais seus maiores desafios, se enfrentaram perdas. “Esse relato é especialmente importante no caso de crianças que apresentam dificuldade para falar”, diz Maria da Paz. 

O que priorizar no retorno de alunos com deficiência

Maria da Paz afirma que a pandemia acabou por colocar diversas crianças numa situação de exclusão. “Muitas estão até com algumas dificuldades motoras que não tinham antes, por terem se movimentado pouco no isolamento, além de questões relacionadas à saúde mental." Para muitas delas, o espaço físico da escola é um lugar totalmente novo, pois foi pouco utilizado no ano passado. 

Para minimizar o impacto do retorno, Maria da Paz sugere que a escola observe alguns pontos.

1. Priorize a volta de alunos com deficiência. Se nem todos os alunos forem voltar ao mesmo tempo, a escola deve privilegiar o retorno primeiramente das crianças com deficiência, fazendo com que permaneçam o máximo de dias na escola. 

2. Incentive que compartilhem seus sentimentos. É interessante estimular essas crianças a expressarem o que estão sentindo ao voltar à escola - prestar muita atenção especialmente ao que não é verbalizado (isolamento, resistência para entrar na escola e dificuldade de concentração, entre outros aspectos).

3. Converse com professores de anos anteriores. Analisar um laudo médico da criança para entender suas dificuldades é importante, assim como fazer uma avaliação diagnóstica de seu desenvolvimento escolar. Mas também é fundamental conversar com professores dos anos anteriores (2019-2020) para saber como a criança se comportava, que tipo de conhecimento adquiriu, que estratégias de aprendizado utilizava para enfrentar os desafios e como se relacionava com os colegas.

4. Apoie os familiares. Oferecer espaço de escuta para as famílias, com rodas de conversa e acolhimento

5. Inclua as crianças nos protocolos contra a covid-19. É fundamental garantir segurança e igualdade em relação aos protocolos de higiene para crianças com deficiência. Elas não devem ser superprotegidas, muito menos ficar à margem dos cuidados sanitários.

Mais sobre esse tema