PARA ACOLHER A TURMA

Estenda a mão aos alunos que atravessaram dificuldades econômicas e emocionais na pandemia

A escola deve entender a realidade das crianças cujos familiares perderam renda ou emprego no período. Confira, ainda, dicas de como ajudar a garantir a saúde mental dos alunos, especialmente daqueles que perderam parentes para a covid-19

Animação feita a partir de fotomontagem de representações do Sars-Cov 2 sobre fundo fotográfico com várias imagens diferentes de pessoas em ensino remoto.
Créditos: Duda Oliva/NOVA ESCOLA, Getty Images, Josue Michel/Unsplash, Scott Tonbro/Pexels

Para além dos desafios na aprendizagem, professores irão lidar, no retorno às aulas presenciais, com muitas perdas por parte dos alunos. 

Entre essas estão questões de ordem econômica, pois muitas famílias perderam renda e emprego no período da pandemia. E isso, com certeza, impacta na aprendizagem.

O mesmo vale para questões relacionadas à saúde mental dos estudantes e seus familiares. Muitos alunos apresentarão vulnerabilidades psicológicas e emocionais por conta do isolamento. A pandemia foi ainda um gatilho que deflagrou, em muitas pessoas, crises de ansiedade e depressão.

Outro ponto importante é a vivência do luto, que atingiu, direta ou indiretamente, grande parte dos brasileiros. Quem viveu isso de perto, em sua família, para além da situação geral do país, pode estar passando por uma fase delicada, que exige atenção redobrada por parte dos educadores.

A psicóloga clínica Dulcineia Finotti Ferreira e a professor Ana Claudia Soares - responsável pela sala de leitura da EM Dom João VI, na zona norte do Rio de Janeiro - sugerem aqui algumas abordagens para o enfrentamento dessas situações. Vale ressaltar que o acolhimento fraterno, sem julgamentos, é o melhor caminho para lidar com essas questões.

Dificuldades econômicas

A escola deve oferecer um espaço de escuta para essa questão. Ana Claudia sugere que, em caso de pertencer à rede pública, a escola precisa estar muito atenta a qualquer solicitação de materiais, tendo em vista o orçamento dessas famílias neste atual contexto. 

“Diálogo constante e empatia são palavras de ordem para manter as crianças envolvidas com esta nova escola que se apresenta na atualidade”, pontua Ana Cláudia. Ela ainda afirma que a escola proporcione aos alunos material escolar, alimentação e uniformes de forma gratuita.

Saúde mental

Para o aluno de escola pública, a escola simboliza um espaço de proteção social, de sustentação, afirma Dulcinéia. Com a pandemia, isso foi perdido. “Vimos uma incidência muito grande de violência doméstica. Muitas pessoas abusaram do álcool e de drogas, além de sofrerem com a falta de comida”, reflete.

A escola precisa ter projetos para atender a essas situações e acolher essas crianças e famílias que passaram - e ainda passam - por essas questões.

“No retorno às aulas presenciais, precisamos cuidar para que os educadores olhem para suas próprias expectativas, para que não desencadeiem ansiedades desnecessárias nos estudantes”, pontua a psicóloga, lembrando que o profissional também precisa ser acolhido em suas questões de ordem emocional, para que possa lidar melhor com os problemas dos alunos.

Dulcineia vê como positivo o retorno às escolas por facilitar a descoberta de novos recursos para enfrentar os desafios. Para a comunidade escolar, ela faz um lembrete: antes de pensar num modelo de acolhimento, é preciso observar como os alunos estão chegando e aí, então, partir para algumas estratégias.  

Para aplacar a ansiedade, ela sugere proporcionar muitas atividades físicas para as crianças menores. No caso das maiores, a sugestão é oferecer um espaço de escuta, com muita  troca. “Eles podem falar de seus problemas por meio da dramatização ou utilizando qualquer outro recurso”, diz.

Se a situação se apresenta mais sensível e delicada, o educador deve contatar a família e indicar que o aluno vá a um profissional da área da psicologia, dentro de uma rede de atendimento que seja adequada às suas condições financeiras.

Luto  

Como lidar com alunos que perderam pais ou parentes para a covid-19? Como a escola pode apoiá-los?

Promover canais de escuta e partilha constantes é fundamental para o enfrentamento do luto. “Certamente, os educadores viveram também essa realidade e têm ferramentas humanas para acolher, apoiar e promover a escuta amorosa neste momento de profunda dor e difícil travessia”, afirma Ana Claudia.

Então, vale aqui mais uma vez abrir espaços coletivos ou individuais para manifestações e conversas sobre o luto. Mas respeitar cada caso é fundamental. “O luto é um processo individual, cada um tem seu tempo”, reflete Dulcineia. E vale lembrar que são muitos os lutos enfrentados por todos neste período: entram aqui a privação dos encontros, que, para adolescentes, têm muito impacto, o distanciamento de pessoas da família e de muitos amigos.

No caso do luto, e em situações em que os alunos se mostram muito irritados, depressivos ou agressivos, também vale estar atento à necessidade de direcioná-los para um profissional especializado, de acordo com suas possibilidades econômicas.

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