Para repensar a prática

Por que uma manifestação cultural também é um conteúdo geográfico

Na origem, o foco da Geografia era o estudo do mundo físico. Mas essa concepção mudou ao longo do século XX - e a escola precisará mudar também

Ilustração: Ana Matsusaki/NOVA ESCOLA

A ideia de que a Geografia se limita à investigação do mundo físico (clima, vegetação, relevo) é uma herança da própria gênese dessa área de estudos. Quando ela foi institucionalizada como um conhecimento científico e se tornou disciplina escolar, no final do século XIX, seu foco era descrever as características físicas dos territórios nacionais com o objetivo de criar uma ideia de nação e pertencimento a um território; os aspectos sociais ficavam em segundo plano.

No Brasil, com a publicação do livro Por uma Geografia Nova (1978), de Milton Santos, ganha força a ideia da geografia crítica. Para essa nova corrente, o caráter social do espaço deveria ser o foco do estudo do geógrafo e não existe espaço ou território que não sejam culturalmente e socialmente construídos. “O espaço tem uma dimensão física ligada à natureza, mas as formas como nos relacionamos com a natureza tem a ver com o nosso comportamento social”, explica Flaviana Gasparotti Nunes, professora do curso de Geografia da Universidade Federal da Grande Dourados (MS). “Não há como pensar em Geografia sem pensar na cultura porque a sociedade e suas manifestações vão ter implicação direta com o que chamamos espaço”.

No Brasil, o carnaval é uma forte manifestação cultural que ajuda a compreender as origens de colonização e o modo como as pessoas se relacionam com as características físicas do local para organizar a festa. Isso se manifesta de maneiras bastante diferentes em um país tão diverso regionalmente. Flaviana lembra que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) prevê que o professor desenvolva atividades em que o aluno perceba que seus lugares de vivência não se constituem apenas de aspectos físicos, mas também de marcadores culturais e sociais. “O educador deve trabalhar as diferentes expressões carnavalescas para mostrar que a festa está presente no lugar em que os alunos vivem e em outros lugares do Brasil. Ele também pode trabalhar as marcas culturais dos grupos que ali habitam. Por exemplo, uma cidade com forte presença de cultura africana vai manifestar o carnaval de um jeito diferente de outra em que ela não é tão forte”.

Outra dica é apresentar a festa através de imagens de como ela acontece no Brasil (e até mesmo do mundo) e buscar por fotografias que mostrem transformações daquele lugar ao longo dos anos. Além das narrativas visuais, é interessante buscar por narrativas orais de familiares que possam contar como o carnaval se manteve ou se transformou na cidade.

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