Afinal, o que é o lugar?
O conceito é central na Geografia, mas não defini-lo não é tão simples quanto parece. Saiba o é e o que não é um lugar, segundo a disciplina
Caso alguém lhe pedisse, como você definiria a palavra lugar? Para os geógrafos, a pergunta é bastante complicada, pois a resposta varia conforme a visão de cada escola geográfica. No início dos estudos de geografia, a palavra era utilizada no sentido de localização, o que ainda acontece no senso comum. A preocupação estava centrada em entender os aspectos físicos da Terra, deixando de lado a humanidade enquanto objeto de estudo.
Foi com a Geografia Humanista, surgida na década de 1960, e com a Geografia Crítica, da década de 1970, que essa área de estudos passou a se interessar pelas relações subjetivas que o homem desenvolve com o espaço e ambiente em que vive. Assim, essa corrente passa a pesquisar como as pessoas vivenciam os espaços em suas atividade cotidianas, como trabalho, moradia, lazer e cultura. Desse modo, “Uma definição básica é que lugar é o local com o qual a pessoa tem uma grande identificação e vivência. Para a criança, podemos dizer que o seu quarto, por exemplo, é um lugar”, diz Leandro Fabrício Campelo, doutor em Educação pela USP e especialista em ensino de Geografia.
Para Alexandre Costa, professor do Instituto de Geografia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), “o lugar é onde se manifestam relações sociais e afetivas de uma parcela da população ou comunidade. O interesse do geógrafo é ver como essas relações se dão no espaço”. Desse modo, o que é lugar para um indivíduo ou grupo de pessoas, pode não ser para outras. Em uma pequena cidade, uma mesma praça pode ser lugar para toda a comunidade; em uma metrópole, uma praça poderá ser lugar para alguns moradores de determinado bairro e apenas um espaço geográfico para o restante da população.
“Lugares de vivência”
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) utiliza o termo “lugares de vivência”, principalmente no texto para o Ensino Fundamental I, justamente por acreditar que a vivência é essencial para a construção do pensamento geográfico. “É a partir da vivência que vai ser estimulado o sentimento de pertencimento ao lugar. Quando o indivíduo se identifica com as relações que ocorrem em sua casa, seu bairro, sua escola e sua cidade, ele cria o sentimento de pertencimento e se relaciona social e afetivamente com o espaço”, defende Alexandre.
Por isso é possível trabalhar lugar com os alunos a partir do carnaval, uma das principais expressões culturais do Brasil, como propulsor. Segundo Leandro Campelo, a dificuldade do professor em apresentar esse conceito chave da Geografia pode diminuir se ele conseguir estabelecer uma relação de proximidade e identificação entre a turma e essa manifestação cultural. O professor pode abordar o fato de que o carnaval acontece em lugares de vivência dos alunos (bairro, cidade, estado, país) e que o próprio barracão da escola de samba, as ruas por onde passam blocos e os sambódromos se tornam lugares de vivência para quem se manifesta culturalmente ali através dessa festa. Se o aluno mora em um local em que o Carnaval está bastante presente o entendimento de como essa manifestação ocorre no espaço é ainda mais direto.
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