Para aprender sobre a prática

Como dar aulas de Educação Física na quarentena?

Conheça dicas para abordar práticas corporais a distância com os alunos dos anos finais do Ensino Fundamental

É possível estudar as práticas corporais em casa. Foto: Marco Pinto/Nova Escola

Milhões de crianças em todo o mundo viram se repentinamente obrigadas a ficar em casa por conta da pandemia de covid-19. O desafio é enorme para toda a comunidade escolar, especialmente os professores. Como continuar a oferecer um ambiente de aprendizagem, mesmo que remotamente? 

Talvez a tarefa seja ainda mais complexa para os professores de Educação Física, que, tradicionalmente, dependem dos encontros presenciais para não só ensinar, mas perceber quais são as dificuldades dos alunos. 

Felizmente, a Educação Física Escolar já há algum tempo vem se transformando e se adaptando. Não se trata mais de apenas educar o corpo dentro do molde dos esportes competitivos, mas de entender as práticas corporais como vivências que existem dentro de contextos sociais. Por isso, danças, lutas e brincadeiras foram incorporadas ao repertório da disciplina, ampliando as oportunidades de aprendizagem. 

Em um momento como o atual, essa transformação mostra-se mais do que bem-vinda. Ela ajuda a superar algumas das limitações do contexto de ensino remoto e a criar condições para que os alunos explorem outras possibilidades, mesmo que limitados aos locais onde moram. 

Adaptações 

Foi isso que os professoras da Escola da Vila, em São Paulo, fizeram: "Conversamos sobre a realidade do espaço físico de cada aluno", afirma Mario Pereira, professor de Educação Física. Pensamos nos piores espaços possíveis e também nos materiais disponíveis. Não adianta num vídeo a gente colocar materiais esportivos mais específicos porque pode ser que o aluno não tenha em casa.

Uma das possibilidades, explica Washington Nunes, coordenador de Esportes da Escola da Vila, é criar atividades que usem materiais e objetos encontrados em qualquer casa. "[Os alunos] fizeram bola de meia, de papel, de jornal. Fizemos também escadinha e jogo da velha no chão para coordenação [motora] e deslocamentos", diz.

A escolha foi, segundo Nunes, por uma abordagem mais prática, levando em conta que os alunos estão passando muito tempo em casa. "Preferimos dar movimento a eles em um momento tão importante. Escolhemos não avançar tanto [na parte de conteúdo]. Entramos nessas questões quando passamos os exercícios."

Essa não é, no entanto, a única abordagem possível. Marcos Ribeiro, professor da rede municipal de São Paulo, membro do grupo GPEF-FEUSP e mestre em Educação pela USP,  vê as possibilidades para o ensino de Educação Física neste contexto como "infinitas, porque as crianças estão conectadas, a todo momento acessando muitos discursos de tudo o que está na sociedade". "Na casa dela", continua, "ou no seu entorno, ela tem contato com as práticas corporais, seja nos momentos de lazer, seja quando estão se comunicando com colegas." "Eles jogam jogos eletrônicos pelo telefone. Hoje em dia, eles têm também videogames, por meio dos quais podem vivenciar as práticas corporais."

É possível ampliar o olhar e usar outros elementos para basear o ensino e a prática da Educação Física durante a pandemia, mesmo considerando as limitações de não poder ter encontros presenciais. "Se você estiver estudando ginástica rítmica com os alunos, aí no domingo, na tevê, você fica sabendo que vai passar a reprise de um campeonato do esporte. Você avisa aos alunos para assistirem. Cada um observa um movimento e relata por e-mail para tentar construir uma coreografia a partir disso." 

Além de usar jogos e outras ferramentas tecnológicas como base para o ensino, Ribeiro cita outras possibilidades que estão ao alcance de praticamente todos. "Qual é o objetivo crucial da Educação Física? Estudar as práticas corporais.Quais são as brincadeiras que seus pais faziam quando estavam em casa, por exemplo?"

Washington Nunes enfatiza a importância de manter as trocas entre professores e alunos, mesmo dentro de um ambiente virtual. O fórum que mantêm com os estudantes está "ajudando a fazer uma roda de conversa, mesmo a distância", relata o professor.

Para que a criatividade dos professores seja mais bem aproveitada, alerta Washington,"o papel da família é fundamental". "A gente sabe que algumas têm maior adesão à prática corporal e outras, menos, mas têm percebido um pedido das famílias para que tenha atividade. As famílias precisam entender que é necessário cuidar do corpo." 

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