Ciências: 5 respostas para replanejar 2020 no Ensino Fundamental 2
Conheça alguns caminhos para nortear o redesenho das aulas nas turmas do 6º ao 9º ano no componente curricular
Desde que a pandemia do novo coronavírus começou, o mundo virou de cabeça para baixo. “Muito do que cada um planejou na virada do ano, seus sonhos, ideias, metas, precisaram ser replanejados. Por que não deveria acontecer o mesmo com a Educação?”, reflete a professora de Ciências Cíntia Diógenes, formada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Ceará (UFC), especialista dos Planos de Aula de NOVA ESCOLA e consultora desta caixa.
Diante desse cenário, como trabalhar em um replanejamento que garanta o desenvolvimento mínimo das habilidades esperadas em cada ano Ensino Fundamental 2 para o ensino de Ciências?
Analisar a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) em busca das habilidades prioritárias, selecionar aquelas capazes de fazer os alunos avançarem e considerar o acesso dos estudantes ao ensino remoto são passos importantes, de acordo com os especialistas.
Leandro Holanda, mestre em Ciências pela USP e especialista do Time de Autores de NOVA ESCOLA, diz que, além de priorizar, os professores precisarão cuidar bem da transição dos alunos para o próximo ano. “Se conseguirmos documentar nossas escolhas, professores de anos seguintes poderão ajudar a recuperar conteúdos que não foram abordados ou trabalhados com afinco nesse momento”, observa.
Para te ajudar nessa árdua tarefa, Nova Escola ouviu Cíntia e Leandro em busca de respostas para cinco perguntas que devem estar na cabeça de muitos professores. Confira a seguir.
Por onde começar o replanejamento em Ciências com as turmas do Fundamental 2?
Cíntia Diógenes diz que o professor, junto à equipe gestora, precisa se debruçar sobre a BNCC e elencar quais são habilidades prioritárias e quais conhecimentos não podem ser deixados para trás. Além disso, é importante que haja uma sensibilidade da equipe pedagógica quanto aos recursos tecnológicos que os estudantes, no geral, possuem, sempre nivelando por baixo.
Leandro Holanda reforça que é importante olhar para o essencial. “E, com isso, talvez tenhamos de escolher os conceitos mais básicos. Por exemplo: há várias habilidades na Base do 8º ano que trabalham eletricidade e geração de energia. Daí precisamos escolher as essenciais e pensar o que será mais viável trabalhar de forma remota”, explica Leandro. “É importante entender se o que você está escolhendo vai ajudar o aluno no ano seguinte ou se é um tema que vai acabar ali”, frisa. Cada rede terá de olhar para essa questão de acordo com a sua realidade.
Como o professor de Ciências pode se comunicar com os estudantes durante as aulas remotas?
No caso do ensino remoto, é preciso preservar a postura investigativa e de resolução de problemas nas atividades propostas.
Uma possibilidade para garantir isso é elencar fontes para que os alunos se aprofundem nos temas das aulas, indicando vídeos e outros itens em que eles possam encontrar informações que os apoiem na solução dos problemas; mediar o trabalho em grupo; propor estratégias e ferramentas para que os alunos possam trabalhar colaborativamente, de acordo com a disponibilidade de recursos (uma chamada por telefone, chats por WhatsApp, Hangouts e assim por diante); definir prazos e apoiar na distribuição de tarefas; ajudar na definição de prazos para a realização dos projetos; e elaborar um checklist para que os estudantes se preparem para a etapa de sistematização.
Alguns exemplos de recursos que podem ser utilizados para engajar os estudantes remotamente são:
Vídeos: Procure conteúdos que despertem o interesse dos estudantes. Reportagens, trechos de filmes de ficção e documentários podem ser sugeridos. Tenha em mente que eles não podem ser o único recurso, pois exigem uma boa conexão para ser consumidos.
Podcasts: O interessante desse recurso é a grande variedade de temas e a linguagem descontraída e acessível. Algumas plataformas gratuitas, como Spotify, Deezer, Castbox, The Podcast App e Tuneln, oferecem conteúdo em áudio gratuitamente
Textos informativos: Sites com conteúdos que relacionem atualidades e ciência servem de ponto de partida para despertar o interesse dos estudantes.
Videoconferência: Proponha debates on-line, jogos e outras estratégias de interação por meio de videochamadas utilizando aplicativos como Google Hangouts ou Zoom. Neste último, o professor tem a opção de subdividir o grupo em salas para realizar intervenções específicas.
Desenhos e esquemas: As ferramentas Paint, Paint 3D e PowerPoint são acessíveis e podem facilitar os registros dos alunos. Pode-se sugerir registros mais elaborados, como o projeto de um protótipo que resolva uma situação-problema.
Textos compartilhados: Por meio do Google Drive, os alunos podem produzir textos colaborativamente, enquanto o professor acompanha o trabalho em tempo real, realizando intervenções por meio de comentários ou do chat.
Fórum: Diante de uma situação-problema ou de um estudo de caso, pode-se utilizar o recurso mais acessível para os alunos, como grupos de WhatsApp.
Como avaliar o aprendizado remotamente?
De acordo com Cíntia Diógenes, o professor deve observar como está o engajamento no decorrer das atividades, avaliando possíveis dificuldades. Vale lembrar, sempre: a avaliação não deve ter uma finalidade punitiva, mas colaborar com o desenvolvimento do aluno, fazendo com que ele reflita sobre a própria aprendizagem. Leandro Holanda alerta que o professor deve tomar cuidado para não replicar os modelos presenciais. Prefira pesquisas, formulários que podem ser transformados em jogos e outros elementos que costumam ser mais efetivos do que uma prova tradicional. “Nesse momento, menos é mais. Se eu aplicava dez atividades de avaliação no bimestre, agora talvez tenha de reduzir e elaborar questões mais reflexivas”, completa.
Algumas estratégias para avaliar remotamente nas aulas de Ciências são:
Videoconferência: Discutir as produções coletivamente em plataformas como Zoom, Google Hangouts etc., instigando os alunos a refletirem sobre os objetivos da aula e como procederam em cada etapa.
Mural de produções: Construir um acervo com os registros das produções dos estudantes em plataformas como o Padlet, recurso gratuito para a construção de murais e painéis virtuais, ou em um documento coletivo no Google Drive.
Sequência de Atividades: Para consolidar as discussões, é interessante disponibilizar exercícios e atividades. Há sequências prontas alinhadas à BNCC em plataformas como a Khan Academy. Também é possível criar questionários e acompanhar as respostas dos estudantes utilizando os Formulários do Google.
Produção de pequenos textos, memes, gifs e vídeos curtos: Os alunos podem usar esses formatos para sistematizar o que aprenderam (com o benefício de engajar os estudantes). Nesse caso, é importante deixar que os estudantes sejam criativos e utilizem as ferramentas que mais estão acostumados.
O que o professor deve fazer quando não há possibilidade de acesso à internet para o aluno?
É importante que as aulas síncronas (professor e alunos conectados ao mesmo tempo) não sejam a única opção. O ideal é que a escola faça um levantamento de como é o acesso à internet e nivele seu planejamento, pensando no aluno que possui maior dificuldade de acesso. A partir daí, o professor pode propor aulas assíncronas, nas quais as atividades são encaminhadas por ligação telefônica ou mensagem de celular e os materiais impressos, entregues em mãos. A equipe deve avaliar qual é a melhor logística. Há regiões onde os alunos estão indo até a escola buscar o material. Em outras partes do Brasil, a rede organizou um sistema de entrega em domicílio.
Como organizar a volta para a sala de aula?
Inicialmente, é importante considerar o que foi planejado, executado e avaliado durante o período de ensino remoto. Por isso, é importante que haja registros de todo o material produzido na quarentena e das observações do docente. É a partir desse material que será possível planejar as avaliações diagnósticas.
O passo seguinte é identificar quais habilidades não foram trabalhadas efetivamente durante o ensino remoto e priorizar aqueles que serão pré-requisitos para o desenvolvimento de habilidades subsequentes (na tabela disponível nesta caixa você encontra sugestões sobre como fazer isso).
Dessa forma, será mais fácil pensar em estratégias para otimizar o tempo. Podem ser elas: atividades com temas interdisciplinares, usar contraturnos ou fins de semana ou serem encaminhados para uma exploração inicial em casa, para sistematização na escola.
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