Arte: cinco respostas para replanejar 2020 do 6º ao 9º ano
Entenda as melhores abordagens de ensino, como usar o estudo remoto a favor do plano de aula, e como manter o engajamento dos alunos
A pandemia de covid-19 causou uma verdadeira reviravolta na Educação, trazendo novos dilemas para a escola. Para que a troca com os alunos transcorra da melhor maneira possível, é preciso repensar o planejamento para o novo contexto.
No ensino de Arte, são muitas as possibilidades, e em situações adversas o componente curricular se destaca justamente porque o conteúdo tem o potencial de ajudar os alunos a se expressarem, reconectando os sentidos e ressignificando criativamente a situação.
Para ajudar nesse replanejamento, convidamos as especialistas em Educação e formação em Arte Ana Tatit e Marisa Szpigel para darem dicas de como fazê-lo. Com experiência na formação de professores e consultora de todos os conteúdos desta caixa, Marisa Szpigel é graduada em Licenciatura em Artes Visuais pela Faap, professora de Arte na Escola da Vila e integrante do Coletivo Oquecabeaqui?. Já Ana Tatit é mestre em Artes Plásticas pela Fasm-SP, graduada em Licenciatura em Artes Visuais pela Faap e professora no curso de Pedagogia do Instituto Singularidades.
Por onde começar o replanejamento para as aulas de Arte para as turmas do 6º ao 9º ano?
Para a consultora Marisa Szpigel, é preciso trabalhar em conjunto com outros professores e fazer uma análise cuidadosa do currículo inteiro, do 6º ao 9º ano. “Com a pandemia, estamos com menos tempo: o que não deu para trabalhar no 6º ano talvez tenha de ser repensado para o 7º no ano seguinte”, analisa. É fundamental também dar atenção à aprendizagem, avaliando o que foi ou não efetivo, conversando com os alunos. O trabalho em comunidade também é aconselhado: Nem sempre os professores são os mesmos de um ano para o outro; é importante ter muita abertura e diálogo entre os docentes”.
Para Ana Tatit, coordenadora do curso de Pós-graduação “A Arte de Ensinar Arte”, no Instituto Singularidades, na capital paulista, nem todas as escolas, docentes e alunos dispõem de amplas ferramentas de trabalho remoto. Por isso, ao pensar no planejamento, leve em conta o uso de dispositivos simples e populares, como o WhatsApp. “É importante entender a realidade dos alunos e ajudar na expressão das emoções. Um caminho é propor atividades que coloquem os alunos em diálogo entre eles e com a comunidade. As preferências e o universo do aluno devem ser usados como caminho para desenvolver o estudo”, defende Ana.
Nas aulas de Arte a distância, que tipo de atividade ou conteúdo é mais adequado para o momento dos alunos?
Para Marisa, do ponto de vista do conteúdo, é importante trabalhar as culturas que deram origem ao povo brasileiro - como as referências de matrizes africana e indígena - como maneira de resgatar a potência coletiva. Além disso, ela recomenda cuidado com a superexposição de professores e alunos às telas durante a quarentena. “O trabalho remoto está nos expondo excessivamente às telas. Com isso, os nossos sentidos ficam meio adormecidos. É importante trabalhar o contato real com as materialidades, como dançar, cantar, modelar, pintar; jogar os estudantes para fora das telas”, recomenda.
Resgatar as referências dos alunos é mais uma recomendação: levantar os gostos dos estudantes em relação à música, teatro, na dança e nas artes visuais. É importante levar em conta o repertório dos estudantes para trabalhar os conteúdos do currículo.
Como manter o contato e o engajamento com as turmas a distância?
Para manter o interesse dos jovens, é preciso falar a língua deles, recomenda Ana. “O ideal é pedir para que os alunos levem as referências, e circular a temática, destrinchando esses conteúdos com o programa das aulas. Isso favorece a criação e a pesquisa. O planejamento agora deve ser mais curto, de no máximo um mês, e ao longo das aulas avaliar se está funcionando ou não”, afirma. Para Marisa, o professor de Arte do Fundamental 2 não deve procurar exercer controle e forçar os alunos a passarem muito tempo nas plataformas digitais. “Eles têm de usar esse tempo para a apreciação e a criação. Depois, o professor pode pensar formas de compartilhar essa produção e debater em turma.”
Como posso avaliar o aprendizado dos meus alunos nas aulas de Arte remotamente ao longo da quarentena?
É fundamental ter compreensão daquilo que se deseja atingir com o planejamento e explicitar essa intenção para os alunos antes da avaliação final, de modo que eles saibam o que está sendo pedido durante o processo, aconselha Marisa Szpigel.
Para Ana, o primeiro ponto da avaliação é entender se o estudante teve condições de realizar o programa. “É preciso checar se houve interesse e entender por que, eventualmente, o programa não atingiu o objetivo", explica. Não é fácil avaliar a subjetividade, então é preciso dar atenção ao envolvimento de cada um com as atividades.
Como posso começar a me preparar e planejar uma eventual volta às aulas?
Marisa Szpigel incentiva que o professor pense em planejamentos híbridos, que possam funcionar tanto remota quanto presencialmente. “Esse tempo fora da escola não pode ser entendido como perda ou lacuna na aprendizagem. Isso gera medo e ansiedade. É preciso ressignificar esse distanciamento - e aprender com ele -, dando continuidade aos processos”, afirma.
Ana aposta que o trabalho de dar voz aos estudantes e documentar com os estudos esse momento da vida privada e escolar servirá como um grande levantamento de dados. “O retorno às atividades presenciais será uma continuidade desse trabalho de protagonismo dos alunos, do qual a BNCC fala muito”, diz.
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