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Avaliação: 12 pontos para garantir um bom diagnóstico quando as aulas voltarem

Veja dicas para receber e avaliar os alunos do 6º ao 9º ano em eventual retorno às aulas presenciais

A avaliação é feita para o estudante se conhecer e não para o controle do professor. Ilustração: Nathalia Takeyama/Nova Escola

Embora os índices de contágio da covid-19 se mantenham em patamares elevados, alguns estados e municípios já se preparam para a volta gradual dos estudantes às escolas. Ninguém tem certeza de quando isso vai acontecer - nem quais serão as condições num eventual retorno. Pode ser nos próximos meses, só no ano que vem ou somente quando a vacina chegar. De toda forma, como compreender quem são os alunos que estarão nas escolas após esse período sem aulas presenciais? 

Quando olhamos para o Ensino Fundamental 2, os professores precisam estar atentos ao desenvolvimento esperado para cada ano em que vai trabalhar, cuidando da linguagem e das formas de aprender de cada faixa etária e de cada turma, lembra a formadora de professores e gestora de projetos do Instituto Canoa, Andréa Schmitz. 

A preocupação é compartilhada pela educadora Mazé Nóbrega, consultora de Língua Portuguesa. Ela pede atenção especial aos estudantes do 6º e 9º anos. Os mais novos, do 6º ano, não tiveram tempo para a adaptação a um modelo diferente de escola, sem a figura do professor polivalente. Com os mais velhos, a preocupação é a evasão escolar: avaliações excludentes ou punitivistas no retorno podem desestimular esses alunos. 

Para a pesquisadora e educadora Kátia Chiaradia, o retorno é um desses momentos em que é preciso sensibilidade. “Cada estudante viveu o isolamento físico de uma maneira particular e, para o bem e para o mal, cada um foi impactado de formas diferentes”, afirma Kátia. “Só se avalia para poder intervir. A função da avaliação é possibilitar uma intervenção saudável e funcional na aprendizagem do estudante”, conclui.

Para ajudar professoras e professores a diagnosticarem os avanços e as dificuldades enfrentadas pelos adolescentes no período de ensino a distância, NOVA ESCOLA ouviu Kátia e Andréa para elaborar este pequeno guia com os 12 principais pontos que devem ser considerados para mapear as evidências de aprendizagem dos estudantes no período de aulas a distância. 

1. A avaliação é feita para o estudante se conhecer e não para o controle do professor. Há situações em que a melhor maneira de avaliar é propor uma avaliação padronizada, mas há outras em que o melhor é olhar para cada aluno segundo suas possibilidades de aprendizado. 

2. É fundamental ouvir os relatos dos estudantes sobre como viveram o período de isolamento e pedir que expliquem o que aprenderam, dar escuta ao que eles contam e ao que silenciam. 

3. Quanto mais dados se puder obter, mais ricas serão as avaliações diagnósticas. Não se trata de uma foto, mas sim, de um álbum, compara Andréa. Para compor o álbum, os alunos podem responder a poucas questões abertas que ofereçam informações relacionadas à disciplina e às vivências que tiveram no período de distanciamento social. Individualmente, podem responder a um teste envolvendo questões da disciplina. Em pequenos grupos, os alunos podem fazer um mapa mental conectando tópicos dos temas estudados: pode-se pedir exemplos ou que façam representações visuais que sintetizem as conexões que eles perceberam sobre os tópicos. É possível montar, também, um painel da turma, onde os alunos devem escrever, individualmente ou em duplas, perguntas que eles têm sobre cada tópico.

4. Na hora de avaliar, construa a pergunta a partir da resposta que você quer obter. Redija a resposta e, então, desenhe a pergunta. Depois, estabeleça a grade de respostas parciais e respostas esperadas. Estabelecer uma gama de respostas que poderão vir dos alunos fará com que você identifique os vários níveis de aprendizagem. O que falta na resposta para ela ser considerada completa é o que deixará evidentes quais pontos precisam ser mais bem trabalhados com a turma. 

5. Reforce para as turmas quais são os objetivos da avaliação. Diga, por exemplo, que ela servirá para que os alunos resumam o que aprenderam ao longo do período de distanciamento. 

6. Lembre aos alunos que a avaliação diagnóstica não valerá nota nem será usada como punição.  

7. Inclua nas avaliações oportunidades para que os alunos compartilhem as aprendizagens não formais que tiveram no período de distanciamento social, tentando relacioná-las à disciplina. Eles podem escrever sobre a convivência maior em casa, sobre a covid-19 ou sobre questões sociais e econômicas vividas por eles. Assim, é possível relacionar as vivências ao campo de conhecimento de cada disciplina.

8. É importante planejar os critérios com os quais você pretende avaliar as respostas, vislumbrando também se os dados reunidos serão de fato úteis para o planejamento para aquela turma. 

9. É essencial que os professores prevejam momentos para que os alunos reflitam sobre como estão aprendendo e como podem aprender melhor. Divida a sala em pequenos grupos para que eles discutam o tópico trabalhado. A maneira como cada aluno defende seu ponto de vista o ajuda a absorver o que aprendeu e elaborar dúvidas mais assertivas sobre o que ainda estiver pendente. 

10. Boas devolutivas também apoiam o processo de metacognição dos alunos, que é refletir sobre o próprio pensamento e suas formas particulares de aprender. É importante que, após a coleta dos dados pelas avaliações diagnósticas, você ofereça aos alunos uma devolutiva coletiva - que poderá ser de forma oral, possibilitando o diálogo - e devolutivas individuais, que poderão ser escritas ou orais, até por meio de áudios, se você tiver, por exemplo, o WhatsApp dos alunos.

11. Atenção à linguagem na hora de explicar os critérios da avaliação. Esta precisa estar de acordo com a faixa de desenvolvimento de cada adolescente, pois é fundamental que ele possa compreender exatamente o que é esperado na avaliação. 

12. Na hora de formular questões - orais ou por escrito -, não acumule perguntas num mesmo enunciado, especialmente quando estiver trabalhando nas turmas de 6º e 7º ano. Aos usar duas ou três perguntas numa só questão, os adolescentes mais novos tendem a entender apenas a última questão. Se houver muitas questões é melhor separar em itens, em a e b, por exemplo. Assim, ajudamos o aluno a organizar seu pensamento. 

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