Língua Portuguesa: estratégias para avaliar as turmas do 6º ao 9º ano
Reunir evidências de aprendizagem e evitar viés punitivista são orientações para o diagnóstico. Veja um exemplo prático sugerido por Mazé Nóbrega
Cada área de conhecimento terá desafios próprios na volta às aulas presenciais, mas, de maneira geral, a acolhida deve dar o tom. Para a educadora Mazé Nóbrega, professora de pós-graduação do Instituto Vera Cruz, em São Paulo (SP), e consultora de Língua Portuguesa desta Caixa, é preciso ter em mente que a avaliação não é o final do processo.
“É provável que o professor tenha reunido evidências para acompanhar a aprendizagem. Os estudantes encaminharam textos, responderam a tarefas nos formulários do Google? Enviaram imagens dos textos, áudios pelo WhatsApp? Com base nesses trabalhos é possível reunir evidências para uma avaliação processual. Para tanto, o professor precisa organizar seus registros para construir uma imagem de cada um dos estudante”, explica a especialista.
Mazé preocupa-se especialmente com os estudantes do 6º e do 9º anos. Os mais novos não tiveram tempo para a adaptação a um modelo diferente de escola, sem a figura do professor polivalente. Com os mais velhos, a preocupação é a evasão escolar: avaliações excludentes ou punitivistas no retorno podem desestimular esses alunos. “Nesse momento de experiências tão singulares, por vezes traumáticas, a volta às aulas presenciais não pode representar mais um peso para os estudantes. As ações escolares não podem ser fonte de desânimo, não podem ser elas mesmas a induzir ao abandono escolar.”
Ainda segundo Mazé, é essencial que os educadores priorizem o que é necessário que os alunos aprendam para avançar em seus estudos. Na Língua Portuguesa, isso demanda atenção aos eixos que orientam a organização do componente curricular na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). “Como as práticas de linguagem têm caráter estruturante, o professor já tem uma orientação para a tomada de decisões: sem dúvida, privilegiar o uso da linguagem”, defende Mazé.
Linguagens: Dicas para avaliar do 6º ao 9º ano
1. Lembre-se: a avaliação não é o final do processo.
2. Reúna as evidências de aprendizagem na quarentena (áudios, textos, imagens, atividades feitas etc.) e organize seus registros.
3. Para o 6º ano, considere a dificuldade da transição e da adaptação aos anos finais do Fundamental.
4. No caso dos alunos mais velhos, do 9º, o cuidado maior deve ser para evitar a evasão.
5. Evite o viés punitivista da avaliação: neste momento delicado, as ações escolares não devem desestimular os alunos.
6. Lembre-se de que não existe fórmula pronta ou que funcione para todos os casos. Converse com a gestão escolar e com os colegas para definir o melhor processo para a sua turma.
Achou difícil imaginar como essas dicas podem funcionar na prática? NOVA ESCOLA pediu para a professora Mazé propor uma estratégia de avaliação para a Sugestão de Atividade: trabalhe o gênero cartas de reclamação, publicada na caixa de Língua Portuguesa desta Série Especial. A ideia é de que o passo a passo a seguir seja um exemplo para você construir a sua própria estratégia, já que, em avaliação - e em Educação, de forma geral - é preciso considerar a realidade da sua turma.
EXEMPLO DE AVALIAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA
Analisando os resultados de uma atividade sobre cartas
Indicado para: Turmas do 6º ano
Atividade avaliada: Sugestão de Atividade: trabalhe o gênero cartas de reclamação, publicada nesta série especial
PASSO A PASSO
1. Leitura e análise da carta inadequada: Os estudantes fazem uma leitura crítica da carta para identificar seus problemas. Ainda não colocaram a mão na massa, mas o professor pode obter evidências de como aplicam o que já discutiram, agora em uma situação concreta.
2. Transforme a carta lida: O estudante deve aprender que, ao escrever uma carta de reclamação, a linguagem empregada constrói uma imagem positiva do solicitante, contribuindo para fortalecer uma disposição favorável de atendimento do que foi solicitado.
3. Garanta a interação: Os estudantes precisam resolver um problema de natureza retórica, ajustando a carta a seus propósitos comunicativos. O professor pode reunir dados a respeito das estratégias linguístico-discursivas que os alunos têm (ou não) para reescrever o texto.
4. Organize o diagnóstico: É importante que o professor organize uma planilha com indicadores de avaliação que permitam apreciar os textos de modo objetivo. Esse levantamento, também de caráter diagnóstico, permite que o professor identifique o que os alunos já sabem e o que precisam aprender para encarar desafios mais complexos.
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