Dicas para avaliar os alunos em Ciências
Diagnósticos individualizados e autoavaliação ajudam a direcionar o planejamento do professor. Veja orientações e exemplo prático sugerido por Cíntia Diógenes
Um possível retorno às aulas presenciais traz consigo um desafio inédito aos professores: como elaborar propostas de avaliação que possam diagnosticar se, e como, as habilidades exploradas durante as aulas remotas de fato promoveram a aprendizagem?
Para a educadora e consultora em Ciências Cíntia Diógenes, a avaliação deve ter como ponto de partida a retomada dos conteúdos ministrados ao longo do período de paralisação das aulas presenciais, pois é necessária uma reflexão conjunta sobre os pontos em que a aprendizagem foi consolidada e aqueles em que permanecem dúvidas ou falta sistematização de conceitos.
“Partindo do pressuposto de que cada aluno teve diferenças na qualidade de acesso aos conteúdos, a escola precisa lançar mão de estratégias para buscar diagnósticos individualizados. É imprescindível que esse diagnóstico não tenha o objetivo único de mostrar o que o aluno aprendeu ou não, mas sim, direcionar o planejamento do professor”, reforça a educadora.
Para que a escola seja assertiva no direcionamento das avaliações diagnósticas, ainda durante o isolamento os professores precisam estar atentos à presença dos alunos nas aulas, à participação de cada um deles e à forma como foram executadas as tarefas propostas. Assim, ficarão mais evidentes quais são as habilidades e os conteúdos a ser revistos preferencialmente, explica Cíntia.
A autoavaliação é outra forma de examinar como se deu individualmente a absorção de conteúdos durante as aulas remotas. É por meio dela, defende Cíntia, que a escola poderá entender quais as dificuldades que cada estudante enfrentou, as conceituais, emocionais ou de acesso aos recursos.
A sugestão de Cíntia é que os professores dividam os conteúdos trabalhados nas aulas remotas em grandes temas. A partir deles, é possível pedir aos alunos - por meio de questionários ou rodas de conversa - que deem notas a si mesmos, em uma escala de zero a 10, sobre o quanto consideram ter aprendido de cada um dos macrotemas. Assim, será possível captar onde há fragilidades, quais os temas mais interessaram aos alunos e onde é necessário mais apoio para uma compreensão adequada. “Esse mapeamento deve nortear o processo de recuperação do conteúdo, permitindo que o professor adapte a retomada deles, concomitantemente à aplicação de novos conteúdos e, inclusive, aproveitando esses novos conhecimentos para consolidar os anteriores”, conclui a educadora Cíntia Diógenes.
Ciências da Natureza: dicas para avaliar do 6º ao 9º ano
1. Comece pela revisão dos conteúdos ministrados nas aulas on-line. Lembre-se de que, provavelmente, nem todos tiveram acesso às aulas remotas e também que os alunos ainda podem ter dúvidas.
2. O ideal é que os diagnósticos sejam individualizados e que as evidências de aprendizagem ajudem a direcionar o planejamento do professor.
3. Comece agora: antes do retorno, fique atento à participação e às interações dos estudantes nas aulas remotas.
4. Pedir uma autoavaliação dos alunos é estratégia eficiente para examinar as dificuldades de cada um.
5. Divida os conteúdos em grandes temas e mapeie o que a turma conseguiu aprender.
6. Você já sabe: não existe fórmula universal. Converse com os seus alunos, com a gestão escolar e com os colegas para elaborar o melhor caminho para as suas turmas.
A seguir, você verá um exemplo de como avaliar em Ciências. A pedido de NOVA ESCOLA, Cíntia propôs uma estratégia a partir da Sugestão de Atividade: relacione o estudo das células com a pandemia de covid-19, publicada na Caixa de Ciências desta Série Especial. Este é apenas um modelo para você construir a sua própria estratégia, já que, em avaliação - e em Educação, de forma geral - é preciso considerar a realidade da sua turma.
EXEMPLO DE AVALIAÇÃO EM CIÊNCIAS
Analise o desenvolvimento de habilidades a partir de um estudo sobre o novo coronavírus
Indicado para: Turmas do 6º ano
Atividade avaliada: Sugestão de Atividade: relacione o estudo das células com a pandemia de covid-19, publicada nesta série especial
PASSO A PASSO
1. Inicie os questionamentos que levem à discussão do conceito de célula: Um exemplo de pergunta gatilho é "Como vocês definiriam uma célula?"
2. Estimule o debate: Permita que os alunos conversem livremente, retomando pontos da aula em que existam dúvidas e levantando novos questionamentos que estimulem a participação dos estudantes.
3. Levante as dúvidas: Após a discussão, entregue aos alunos três pedaços retangulares de papel. Em cada um, os estudantes devem escrever: O QUE EU JÁ SEI?; O QUE EU GOSTARIA DE SABER?; O QUE AINDA TENHO DÚVIDA?
4. Faça uma tabela: Após todos preencherem suas folhas, recolha os papéis e cole-os numa tabela com essas três colunas. Leia o conteúdo para a turma.
5. Divida a turma em grupos: Peça aos alunos que se dividam em grupos baseados nas principais dúvidas e distribua fontes de leitura e pesquisa sobre o assunto.
6. Abra a discussão: A partir das leituras, estimule os alunos a discutirem as dúvidas esclarecidas e o que aprenderam com a atividade.
7. Convide os alunos para avaliarem: Peça que avaliem uns aos outros sobre a evolução da aprendizagem de cada um. Nesta etapa, os alunos devem ser “professores” uns dos outros, ajudando a sistematizar conceitos.
8. Peça para os alunos construírem protótipos: Em seguida, cada aluno deverá montar um protótipo de célula animal com massinha de modelar, apresentando suas principais estruturas, e, por fim, refazer individualmente a tabela: O QUE EU JÁ SEI?; O QUE EU GOSTARIA DE SABER?; QUE DÚVIDA AINDA TENHO?
9. Use a avaliação no seu planejamento: O material final servirá de base para o planejamento das próximas aulas.
Para saber mais
Confira esta bibliografia para se aprofundar no tema das avaliações
BACICH, Lilian; MORAN, José. Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018.
COLL, César (Org.). O construtivismo na sala de aula. São Paulo: Ática, 2006.
PERRENOUD, Phillipe. Avaliação - da excelência à regulação das aprendizagens: entre duas lógicas. Porto Alegre: Artmed, 1999.
PIAGET, Jean. Problemas de psicologia genética. Petrópolis: Vozes, 1972.
ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.
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