Para usar com seus alunos

Matemática: como avaliar no retorno?

Entender o que os alunos aprenderam em casa e ir além das avaliações clássicas são orientações. Confira um exemplo prático sugerido por Luciana Tenuta

Para aquecer, pergunte o que os alunos aprenderam longe da escola. Ilustração: Nathalia Takeyama/Nova Escola

A interrupção das aulas presenciais imposta pela pandemia da covid-19 forçou o replanejamento de todo o semestre e alterou o processo de ensino e aprendizagem. Agora, o desafio é identificar sucessos e lacunas para que os professores possam fazer os ajustes necessários para uma eventual volta às aulas. 

“Neste momento, a avaliação é, acima de tudo, para mostrar o que cada aluno aprendeu. Assim, o professor poderá definir ações que atendam estudantes em momentos diferentes de aprendizagem, criando estratégias efetivas para não deixar nenhum para trás”, defende Luciana Tenuta, educadora e consultora de Matemática desta Caixa. “Esses meninos aprenderam muitas coisas ao longo da pandemia, dentro de casa, e a gente precisa começar perguntando para eles o que foi que aprenderam além do enviado pela escola”, afirma.

As rodas de conversa podem ser um ambiente fértil. Para iniciar a avaliação diagnóstica, Luciana sugere perguntas abrangentes, como “o que vocês aprenderam nesse tempo longe da escola?”, para aquecer a turma antes de chegar à Matemática. É o momento, sobretudo, de usar estratégias que vão além dos instrumentos escritos. Luciana lembra, ainda, que a retomada das aulas presenciais, quando acontecer, deve ocorrer de forma escalonada e, com turmas menores, será ainda mais proveitoso partir para formas alternativas de avaliação.

A possível volta à sala de aula não será o momento adequado de partir para as chamadas avaliações clássicas. Para Luciana, trata-se de um período de acolhida, de compreensão da experiência dos alunos no período em casa, para só depois buscar um entendimento mais detalhado do que eles absorveram de tópicos curriculares. “A palavra é ‘cuidado’. Esse cuidado a gente precisa continuar tendo, principalmente quando esses meninos voltarem para a escola. O cuidado de ouvir: o que foi que eles passaram durante a pandemia? Estaremos recebendo pessoas muito sofridas, vamos precisar de uma escuta muito cuidadosa para esses alunos. Isso está em primeiro lugar”, conclui.

Matemática: como avaliar do 6º ao 9º ano

1. A escuta cuidadosa e o acolhimento devem vir em primeiro lugar.
2. A avaliação deve ser pensada para mostrar o que cada um conseguiu aprender no período longe da escola. Com isso, será possível traçar ações para atender estudantes em momentos diferentes de aprendizagem, cuidando para que ninguém fique para trás.
3. Antes de chegar na Matemática, a avaliação diagnóstica pode partir de rodas de conversas com os alunos. Pergunte: o que você aprendeu longe da escola?
4. É interessante ir além de instrumentos escritos e buscar formas alternativas de avaliação neste momento delicado.
5. Não existe fórmula pronta: converse com seus alunos, com a gestão e com os colegas para definirem a forma de avaliar que melhor funcione para as suas turmas.

Para auxiliar você a entender como fazer isso, NOVA ESCOLA pediu para Luciana Tenuta propor uma estratégia de avaliação para a Sugestão de Atividade: situações em que não há proporcionalidade, publicada na Caixa de Matemática desta Série Especial. Vale reforçar: a ideia é que as dicas a seguir sejam um exemplo para você construir a sua própria estratégia, já que, em avaliação - e em Educação, de forma geral - é preciso considerar a realidade da sua turma.

EXEMPLO DE AVALIAÇÃO EM MATEMÁTICA 

Estratégias para acompanhar o desenvolvimento em uma atividade sobre proporcionalidade


Atividade avaliada: Sugestão de Atividade: situações em que não há proporcionalidade

Indicado para: Turmas do 8º ano 


PASSO A PASSO 

1. Peça exemplos e justificativas: Em folhas de papel, peça aos alunos que deem dois exemplos de grandezas proporcionais e justifiquem as escolhas. A forma da justificativa deve ser totalmente livre: os alunos podem escrever um texto, desenhar, usar esquemas ou operações matemáticas... Enfim, o estudante pode fazer uso da forma em que se sentir mais à vontade para se expressar. A própria escolha dessa forma  que o aluno usa para justificar seus exemplos dá pistas de seu repertório e dos conceitos já aprendidos. 

2. Construa um mural: Faça um mural dispondo todas as folhas na parede. 

3. Proponha uma roda de conversa com duas perguntas iniciais: O que são grandezas proporcionais? Como eu reconheço se duas grandezas são ou não proporcionais?

4. Planilhe e anote: Com uma planilha com os nomes de toda a turma em mãos, faça anotações sobre a desenvoltura dos alunos em suas argumentações. 

5. Depois da roda, retome as anotações feitas no início da atividade e instigue a turma: O que vocês mudariam nos exemplos que deram no início da atividade? 

6. Retome os exemplos: Em uma nova folha, os alunos devem dizer o que mudam ou mantêm nos exemplos dados inicialmente. 

7. Em roda de conversa ou de maneira individual, questione as opções de manter ou mudar: Por que mudou? Por que manteve? Lembre-se de que a avaliação diagnóstica é um momento rico também de aprendizagem. 

8. Convide a turma para criar uma atividade: É possível, ainda, dividir a sala em duplas para que cada uma crie uma atividade para os colegas resolverem. A ideia é compreender o conceito de proporcionalidade, propondo um problema a ser resolvido e não apenas resolvendo os elaborados pelo professor. Cada dupla deve resolver os problemas criados por outra.  

9. Na hora da correção, as duas duplas vão discutir os dois problemas: O resultado daquele problema elaborado por ela, obtido pela outra dupla, e o seu resultado para o problema proposto pela outra dupla. 

10. Mantenha-se atento às discussões de cada dupla, tanto na criação quanto na resolução dos problemas: Observe especialmente a segurança que cada aluno tem ao defender seus pontos de vista e como ele usa conceitos já vistos nas aulas.

Para saber mais:

BOALER, Jo. Avaliação para uma mentalidade de crescimento. In Mentalidades matemáticas: estimulando o potencial dos estudantes por meio da Matemática criativa, das mensagens inspiradoras e do ensino inovador. Porto Alegre: Penso, 2018. 

HOFFMANN, Jussara. Avaliação mediadora: uma prática em construção da pré-escola à universidade. Porto Alegre: Educação e Realidade, 1993.

PERRENOUD, Phillipe. Não mexa na minha avaliação! Uma abordagem sistêmica da mudança. In Avaliação - da excelência à regulação das aprendizagens: entre duas lógicas. Porto Alegre: Artmed, 1999.

PONTE, João Pedro; BROCARDO, Joana: e OLIVEIRA, Hélia. A avaliação do trabalho de investigação. In Investigações matemáticas na sala de aula. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.

ZABALA, Antoni. A Avaliação. In A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.

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