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Coloque os alunos para falar de emoções
Confira sugestões para promover debates e reflexões entre os jovens
Professores não são os únicos desafiados no atual contexto social. Os estudantes também vivem um momento novo em suas vidas: ficar longe de colegas e docentes, ter de estudar em casa, lidar com incertezas em relação ao futuro, ajudar nas tarefas domésticas (ou trabalhar) e enfrentar lutos (de alguém próximo e o luto coletivo). Como educadores e alunos continuam em contato, mesmo que de modo remoto, é essencial não desconsiderar o que está acontecendo no mundo e seus reflexos na vida pessoal de cada um.
Mesmo antes da pandemia, havia a convivência e o trabalho com crianças e adolescentes com quadros de ansiedade, depressão e hiperatividade. Há também os casos de automutilação (cutting) ou de tentativas de suicídio (segundo a Organização Mundial da Saúde, o suicídio é segunda causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos). A questão, agora, é cuidar para a situação não se agravar.
A escola costuma ser um dos principais espaços de socialização para crianças e jovens. E mesmo no ensino remoto, é preciso encontrar estratégias para promover ações preventivas. As rodas de conversa podem ser uma opção. “Para o professor, é um desafio e pode causar uma angústia saber que, por causa da dificuldade de acesso digital, poucos alunos vão poder se beneficiar”, comenta Rodrigo Bressan, presidente do Instituto Ame sua Mente e organizador do livro Saúde Mental na Escola. “Ainda assim, ele tem de oferecer acolhimento para aqueles que consegue alcançar”, completa.
A sugestão do psiquiatra é, primeiramente, para organizar rodas de conversa e momentos de escuta ativa entre os professores. “Uma das maneiras de superar o estresse é estar em contato com grupos de pares, ou seja, pessoas enfrentando os mesmos problemas”, diz Rodrigo. Ao realizar essas trocas entre si, os docentes não só agem em benefício próprio, como também podem desenvolver uma familiaridade com a atividade antes de promovê-la com os estudantes.
Como organizar a roda de conversas com os alunos
Ao fazer o convite, pergunte qual plataforma é mais acessível para a turma (Zoom, Google Meet, Skype etc.) e verifique qual horário seria melhor para todos. Durante a reunião, a sequência sugerida por Rodrigo é: acolhimento, levantamento de problemas, reflexão, histórias positivas e encaminhamentos para o futuro.
A conversa dependerá muito do tipo de relação que o professor tem com a turma, qual a proximidade dos estudantes entre si e o estado de cada um no momento. Para mediar, pode-se perguntar: como vocês estão? Como está o ritmo de trabalho da sua família? Eles estão trabalhando fora ou em casa? Vocês não estão se vendo diariamente na escola, mas estão conseguindo manter grupos de conversa entre si? (Caso não, incentive que isso aconteça.) Como está a rotina de vocês em casa? Estão conseguindo separar momentos para estudo e para lazer e descanso?
O principal é propiciar um ambiente acolhedor para que os estudantes se sintam seguros em se expressar. E caso perceba que determinado aluno está se expondo demais ou ficando constrangido, o professor deve agir para contornar a situação, mesmo que tenha de mudar o assunto.
NOVA ESCOLA preparou outros conteúdos específicos para ajudar os educadores a apoiarem os jovens neste período de quarentena. Acesse aqui.
Preocupação com saúde mental: uma constante na rotina escolar
Talvez nem todos os alunos fiquem à vontade para expressar emoções em uma conversa coletiva. Além disso, por mais que a iniciativa funcione muito bem, uma atividade pontual não é suficiente para lidar com dificuldades diárias, principalmente quando consideramos não haver uma data definida para o fim da pandemia.
“Para dar vazão às emoções, é possível trabalhar com reflexões pessoais, leituras e vídeos, de modo que o acolhimento também aconteça”, sugere Luciene Tognetta, professora de psicologia escolar e coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (Gepem) da Universidade Estadual Paulista (Unesp). O grupo elaborou duas propostas para apoiar escolas que estão preparando atividades de atendimento à distância em razão do período de distanciamento social. Confira aqui um plano de ajuda e um protocolo de convivência na internet. Ambas podem ser utilizadas com os alunos.
Outra sugestão é usar filmes que abordam o isolamento social para iniciar atividades e conversas sobre como os adolescentes estão lidando com isso. O Instituto Criar e o Projeto Paradiso lançaram o Projeto Curta em Casa, que fomentou a realização de 200 curtas-metragens por moradores das periferias de São Paulo a respeito das realidades vividas durante a pandemia de covid-19. Acesse todos os vídeos aqui. Você pode selecionar alguns, enviar para sua turma e propor debates sobre eles.
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