Foi bom ou pode melhorar

Os aprendizados - entre erros e acertos - dos educadores de Coruripe

Diante do ensino remoto emergencial e do compromisso de não deixar ninguém para trás, a rede apostou no bom e velho papel, no planejamento e na parceria com a comunidade escolar

Educadoras separam materiais para o kit enviado aos alunos sem conexão. Foto: Itawi Albuquerque/NOVA ESCOLA  

O compromisso com a produção de material específico para alunos que só poderiam acompanhar as aulas por meio do papel – a ferramenta analógica de aprendizagem mais antiga que há – foi um desafio extra para os professores da rede municipal de Coruripe, município do litoral alagoano. 

Apesar de as tarefas impressas já estarem presentes nas aulas pré-pandemia, aplicá-las sem a possibilidade de explicação presencial ou virtual do professor exigiu organização e empenho dos docentes e gestores escolares para garantir a inclusão educacional dos alunos que têm se apoiado apenas nesse tipo de ensino nos últimos seis meses. 

Passado esse tempo, qual avaliação os professores e gestores fazem do aprendizado realizado? Abaixo, algumas das reflexões feitas por professores e gestores entrevistados. 


FOI BOM

Ações para garantir função principal da escola pública: o acesso da educação a todos

Inspirada pela ação de busca ativa de professores de duas escolas da cidade, a rede municipal mobilizou-se para viabilizar o despacho e o recolhimento de atividades impressas. A saída deu a oportunidade de todos conseguirem acompanhar as aulas a distância, mesmo sem dispor de ferramentas digitais. Houve também iniciativas próprias de escolas, como a realização de radioaulas em uma das duas rádios da cidade, uma vez por semana, como faz, por exemplo, a EMEB Liége Gama Rocha.

Mobilização da comunidade 

Diante das dificuldades logísticas impostas para entrega apenas por carro, a comunidade escolar mobilizou-se com o apoio de dois grupos de ciclistas da cidade, o MTB Coruripe e o Giro Alto. Todos os domingos, os grupos circulam pelos bairros para entrega e recolhimento das tarefas feitas pelos alunos sem acesso à internet. Além disso, as escolas também se organizaram para que as equipes estejam presentes nas escolas ao longo da semana para os pais que queiram retirar ou entregar os materiais lá.

Trabalho constante de planejamento das adaptações das aulas

Os professores da rede municipal comprometem-se semanalmente a pensar formatos variados das aulas para atender minimamente a todos. Enquanto aplicam as aulas síncronas da semana, os docentes já organizam em paralelo como será formatado o material que ficará disponível para impressão e distribuição aos domingos. Cada escola também ampara os professores nas gravações/lives de aulas virtuais, bem como nas produções dos materiais impressos.


PODE MELHORAR 

Dificuldade em explorar os mesmos recursos nas aulas síncronas e assíncronas

Nem toda tarefa impressa consegue ser tão atraente e engajadora quanto uma aula síncrona, que tem recursos audiovisuais e possibilidade de interação simultânea.  

Nas próximas vezes... Os professores já identificaram algumas práticas que enriquecem as atividades impressas e que precisam sempre estar no radar dos docentes na hora do planejamento das aulas, como a indicação de exercícios manuais com construção de maquetes, desenhos, dobraduras, ou mesmo exercícios que demandem respostas relacionadas ao cotidiano dos alunos –  o professor de matemática Glédson Tenório, por exemplo, pediu aos alunos que reparassem na sombra do poste da rua de casa em aulas sobre razões trigonométricas.

Conteúdos mais enxutos 

O volume grande de materiais repassados aos alunos nos meses iniciais do ensino remoto afugentava a participação e a produção dos estudantes. A percepção dos professores entrevistados foi para aulas nos dois formatos, síncronas e assíncronas. Ainda hoje há um exercício constante de busca por formatos mais eficientes. É comum, no entanto, que as atividades impressas tenham um conteúdo mais sintetizado e simplificado que os aplicados nas aulas síncronas até para o uso mais controlado de papel, que aumentou bastante em todas as escolas.

Nas próximas vezes... Expandir a busca por opções para viabilizar as aulas através de recursos digitais, como o uso de pen drives e também viabilizar o acesso a aparelhos (computadores, tablets) para todas as famílias dos estudantes, seja por meio de recursos públicos para compra, seja por parcerias com empresas ou por campanhas de doação. 

Busca ativa constante dos alunos 

Apesar dos esforços com a produção de opções para atender a toda a comunidade escolar, os gestores de Coruripe também avaliam e monitoram os números de evasão escolar na rede.

Nas próximas vezes... O trabalho de contato com famílias e estudantes precisa ser constante para minimizar esse problema na cidade. Mês a mês, as escolas já avaliam as participações e traçam metas para trazer novamente alunos para a rotina escolar, ainda que muitos fatores possam dificultar essa tarefa.


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