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E-BOOK: A África e o Brasil que quase ninguém vê

Repense as imagens usadas em sala e construa um novo imaginário sobre o continente africano e a população negra

Recolorida pelo projeto Machado de Assis Real, fotografia do escritor ressalta a sua negritude. Foto: Machado de Assis Real

Professor de Geografia na EMEF CEU Paraisópolis, em São Paulo, Tiago Onidaru organizou uma rápida competição com as turmas de 8º ano: distribuiu imagens de diferentes paisagens entre os estudantes e pediu que eles identificassem o continente onde imaginavam que cada fotografia havia sido tirada. Quem acertasse ganharia 2 pontos na competição, quem corrigisse alguma foto colocada de forma errada ganhava 1 ponto. No resultado, sem surpresas. No espaço dedicado ao continente africano, apenas savanas, deserto e pobreza. Ao corrigir, a surpresa: imagens de cidades desenvolvidas, florestas tropicais e belas praias também representavam outras partes da África. "Os estudantes sempre têm acesso às mesmas informações: sobre guerras, miséria, doenças devastadoras. Eu sempre busco ampliar essa noção", comenta o professor.

"É por meio de imagens que se constrói o imaginário sobre tópicos como a África e sobre a própria participação de negras e negros na história do Brasil", afirma Juliana Yade, especialista em Educação do Itaú Social. Repensar, então, as fotos, ilustrações e filmes que se apresentam aos estudantes é fundamental para reconstruir a visão que se possui sobre tópicos relacionados a negritude, africanidades e afobrasilidades, objetivo da Lei nº 10.639, que alterou o artigo 26A da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e instituiu a obrigatoriedade do ensino de história e cultura africana e afro-brasileira. 

Segundo Hellen Costa, mestranda em Geografia na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), esse é ainda um dos pontos fracos dos materiais didáticos. "As imagens sempre mostram negros em posições subalternas, apenas em contextos de explicação sobre a escravidão", explica a especialista, autora do artigo Análise dos livros didáticos de geografia e a representatividade étnico-racial após 130 anos de abolição.

Ilustrações tradicionalmente usadas no ensino empurram visões prejudiciais sobre a África e sobre a história dos africanos e de seus descendentes no Brasil. Quadros de viajantes europeus que apenas mostram negros escravizados em situações de tortura e trabalho forçado, por exemplo, podem ter impactos negativos. "Lembro que, na escola, sempre via a África como um local exótico, selvagem, não conseguia me identificar com elas", conta Juliana. Por isso, o repertório – de fotos, mas também de filmes e de narrativas – deve valorizar a produção intelectual, cultural, científica e até mitológica de povos africanos e de pessoas negras no Brasil e no mundo. Isso vale até para a decoração do espaço escolar: é essencial que as imagens e fotos escolhidas para ornamentar as paredes, por exemplo, incluam crianças negras. 

Veja no e-book abaixo dicas de imagens para trabalhar com a turma e pontos de atenção para tratar do assunto em sala de aula. O material foi produzido com a consultoria de Sherol dos Santos, especialista em História do Time de Autores de NOVA ESCOLA, docente na rede estadual de Ensino do Rio Grande do Sul e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em História da UFRGS.

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