O mundo negro na História
Do Antigo Egito ao século 20, conheça episódios que podem render boas discussões em sala de aula
Sancionada há 16 anos, a Lei 10.639/2003 tornou obrigatório o ensino da História e Cultura Afro-brasileira nas escolas. No entanto, a desinformação e o desconhecimento ainda são obstáculos para a implementação da temática no dia a dia escolar, agravados pela baixa quantidade de recursos didáticos disponíveis. Além disso, muitos episódios emblemáticos da história africana e de seus descendentes pelo mundo passaram batido pela formação de muitos professores.
Conheça, abaixo, alguns episódios que podem render boas discussões para as aulas de História.
1. O Egito negro
Há grandes controvérsias sobre a formação da população egípcia. Apesar disso, historiadores estão cada vez mais convencidos de que a população do antigo Egito era composta majoritariamente por pessoas de pele escura, com cultura e língua mais próxima dos povos africanos do que dos povos do Mediterrâneo, de acordo com o segundo volume da Coleção História Geral da África,produzido pela Unesco. Há pistas, inclusive, de que pelo menos parte dos governantes do território também era negra, como o rei Piiê, entre os anos 751 e 716 a.C.
Na BNCC: EF07HI03, EF06HI07
Saiba Mais: Um dos maiores estudiosos sobre a origem negra dos egípcios foi o intelectual senegalês Cheik Anta Diop. Conheça mais sobre ele no artigo.
2. A independência haitiana
A Revolta de São Domingos (1791-1804), que levou à independência do Haiti, foi um movimento de libertação conduzido pelas populações escravizadas. O mal tratamento dado aos moradores da ilha caribenha gerou diversas revoltas que, posteriormente, se transformaram em conflitos contra tropas francesas – país que dominava o território até então. O processo foi influenciado pela Revolução Francesa (1789-1799) e teve impacto na independência de outras colônias americanas, inclusive em rebeliões que aconteceram em território brasileiro, como a Revolta dos Malês (1835), na Bahia.
Na BNCC: EF08HI10
Saiba Mais: No livro Jacobinos Negros: Toussaint L'Ouverture e a revolução de São Domingos, de C. R. L. James, Boitempo Editorial. E confira aqui uma série de planos de aula sobre esse tema.
3. A resistência ao domínio europeu
Na história moçambicana, nenhuma figura é mais emblemática do que o Ngungunhane (1850-1906): assumiu o poder antes da partilha da África pela Conferência de Berlim (1885) e impôs forte resistência ao domínio português no seu território. Foi derrotado em 1895 e levado para exílio em Portugal, onde viveu até a morte. Durante os movimentos de independência, sua figura tornou-se símbolo de resistência ao domínio português. Na literatura do país, sua presença é constante: ora como ditador sanguinário, ora como herói que lutou contra o neocolonialismo.
Saiba Mais: Reportagem da Deutsche Welle sobre Ngungunhane
5. Os movimentos de direitos civis ao redor do mundo e no Brasil
O século 20 foi marcado pela reivindicação de direitos em diversas partes do mundo. Nos Estados Unidos, Rosa Parks (1913-2005) e o reverendo Martin Luther King Jr. (1929-1968) tornaram-se figuras emblemáticas na luta contra leis que discriminavam pessoas negras: elas não eram autorizadas a sentar em ônibus ou a usar os mesmos bebedouros que pessoas brancas. Na África, países como Angola e Moçambique lutaram pela independência entre as décadas de 1960 e 1970, e na África do Sul o apartheid, que discriminava a população de acordo com sua raça, também foi combatido até 1994. No Brasil, movimentos negros organizaram-se ao longo de todo o período e surgiram grupos como o Teatro Experimental do Negro e os movimentos de comunidades quilombolas.
Na BNCC: EF09HI36, EF09HI20
Saiba Mais: Teatro Experimental do Negro: trajetória e reflexões, de Abdias Nascimento. Confira também um plano de aula de Nova Escola sobre o tema aqui.
*Reportagem: Wellington Soares
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