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Como fazer: discuta as relações étnico-raciais na Geografia

É possível recorrer a diversas fontes de dados e pesquisas que ajudam a compreender melhor a população brasileira e a situação de negros no país

O geógrafo e intelectual negro brasileiro Milton Santos (1926-2001). Ilustração: Duda Oliveira /Nova Escola

A formação cultural brasileira, a criação das cidades, as relações de trabalho: esses são alguns dos temas da Geografia em que é possível incorporar reflexões sobre a população negra brasileira. "O tema pode ser abordado transversalmente em quase todos os conteúdos da Geografia, e não apenas nas ocasiões em que é apresentado pelo livro didático", defende Hellen Cristine Costa, mestranda em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Um aspecto que não pode deixar de ser citado é a importância de Milton Santos (1926-2001), importante geógrafo negro e um dos mais conhecidos intelectuais brasileiros, para a discussão sobre o tema na disciplina. O artigo Entre o corpo e a teoria: a questão étnicoracial na obra e trajetória socioespacial de Milton Santos aprofunda a a questão étnico-racial na vida e obra do geógrafo. 

Abaixo, conheça outros tópicos em que é possível discutir as relações étnico-raciais nas aulas de Geografia.

1.Cultura e religião

Os últimos dados sobre a religião dos brasileiros foram coletados durante o Censo Demográfico de 2010. De acordo com a pesquisa, 0,3% dos brasileiros afirmaram ser de religião de matriz africana, mas especialistas afirmam que o número pode ser subestimado, já que ainda há preconceito com essas religiões. Apresente o problema aos alunos e questione as razões desse preconceito e possíveis medidas para reverter o cenário. Também é possível incorporar a discussão nos dados sobre o Censo 2020, que foi realizado neste ano. Nessa pesquisa, as informações sobre religião foram coletados de forma amostral – assim como diversas outras. Questione com os estudantes os motivos e os impactos dessa decisão.

2.Comunidades tradicionais

A Constituição Federal de 1988 foi um marco na definição de direitos das comunidades que vivem em áreas remanescentes de quilombos, pois assegura o reconhecimento e a demarcação desses espaços. Apesar disso, o reconhecimento ainda é difícil. Apresente o tema aos alunos e discuta os desafios enfrentados por essas populações e as diferenças entre as comunidades que ainda cultivam suas tradições e outras, que acabaram incorporadas por grandes cidades. É possível também buscar comunidades quilombolas na região onde a escola está e discutir a respeito desses territórios.

3.A formação das cidades brasileiras

A existências de favelas e comunidades – chamadas oficialmente de aglomerados subnormais pelo IBGE – está ligada a questões sociais, econômicas e históricas que perpassam os conceitos de raça. Com o uso de dados disponibilizados pelo governo, é possível pensar sobre as características das pessoas que vivem nesses locais (em sua maioria negras), as condições de vida lá estabelecidas (presença de saneamento básico, riscos relacionados ao relevo dos locais ocupados, etc) e também sobre as origens históricas dessas ocupações. "Muitas reformas realizadas no início do século 20 empurraram populações negras para a ocupação de terrenos irregulares", menciona Juliano Custódio Sobrinho, professor da Escola Lourenço Castanho, em São Paulo, e doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP).

4.Educação

Reflexões sobre o próprio panorama educacional brasileiro podem atrair a atenção dos jovens. Estatísticas educacionais são fundamentais para o cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Vale destacar os atuais índices do Brasil e fazer recortes que mostrem como as populações negras são afetadas de maneira mais direta: 44,2% dos jovens negros de 19 a 24, por exemplo, não concluíram o Ensino Médio. Os jovens podem ser convidados a pensar sobre os fatores – dentro e fora da escola – que levam a esses resultados.

*Reportagem: Wellington Soares

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