Matemática do retorno: 5 orientações para planejar as aulas do Fundamental
A volta de alguns alunos para a escola trará desafios também para ensinar Matemática do 6º ao 9º ano. Conheça alguns caminhos para se preparar para este novo capítulo na pandemia
Neste segundo semestre de 2021, com a ampliação da imunização da população e, em especial, dos educadores, deve tornar-se cada vez mais frequente o retorno, ainda que parcial, às atividades presenciais nas escolas brasileiras.
Com isso, a comunidade escolar precisará lidar com uma série de desafios, como a adequação da rotina e do planejamento ao modelo de ensino semipresencial, que deve predominar na maior parte das escolas por enquanto, e a combater a exclusão escolar, tanto indo atrás dos estudantes que estão desvinculados da escola quanto planejando o trabalho pedagógico para não deixar ninguém para trás.
Isso porque, até outubro do ano passado, 5,5 milhões de crianças e adolescentes estavam fora da escola ou sem acesso a qualquer tipo de atividade pedagógica, segundo a pesquisa Enfrentamento da cultura do fracasso escolar, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
Além disso, o período da pandemia fez com que os professores precisassem priorizar conteúdos, diante da certeza de que não seria possível dar conta de tudo, e lidar com as diferenças de acesso às aulas remotas e de condições de estudo na casa dos alunos.
Sendo assim, é provável que os professores encontrem turmas com defasagem de aprendizagem e em níveis desiguais, algo normal nas escolas, mas que a pandemia pode acentuar. Confira, abaixo, orientações de especialistas para lidar com esse cenário:
5 pontos essenciais para considerar no planejamento e não deixar ninguém para trás:
Acolhimento em primeiro lugar
Antes de começar o trabalho pedagógico em si, é importante dedicar um tempo para receber os estudantes de volta ao espaço escolar. Este é um momento de adaptação aos protocolos de biossegurança, de adequação à convivência social e à rotina, tão distante da que as crianças e adolescentes tiveram de se acostumar, e ao modelo de ensino que cada unidade adotará.
"Acolhimento é a prioridade. Ele envolve a parte amistosa, mas vai além, que é compreender que os estudantes estavam em uma realidade e agora voltam para uma escola que eles nunca presenciaram", diz Fabricio Eduardo Ferreira, professor da rede estadual de São Paulo e mentor do Time de Autores de NOVA ESCOLA.
O planejamento do trabalho pedagógico
Até o fim do ano, os professores de Matemática têm poucos meses para retomar o que for preciso desse último ano e meio e avançar no desenvolvimento dos demais conteúdos. Para auxiliar nessa tarefa, sem ter de parar para fazer a revisão da matéria, vale planejar o trabalho a partir das habilidades focais da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que permitem associar conceitos que não foram bem desenvolvidos com os próximos que estão no planejamento. É possível, por exemplo, conectar sólidos geométricos e volume, ou pensar em temas transversais, como a educação financeira.
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"Quanto mais vínculo estabelecer entre as áreas da Matemática e de outras áreas do conhecimento, mais sentido isso faz para o aluno, porque dá significado para o que está aprendendo. Nesse recomeço, é melhor não partir para a abstração total, porque vai dificultar o processo", orienta Fernando Barnabé, que integra o Time de Autores de NOVA ESCOLA e diretor da rede Trilhas do Saber e da Edu.co Ensino Consultoria.
O especialista também indica o trabalho a partir da resolução de problemas, do desenvolvimento de pequenos projetos interdisciplinares, que costumam engajar mais as turmas, bem como promover a constante socialização das estratégias de resolução entre os estudantes. "Assim fica mais fácil para o aluno que não desenvolveu alguma habilidade compreender caminhos para chegar à solução de problemas", diz.
Organizar o que já foi possível desenvolver com os estudantes
Mapear o que foi trabalhado com as crianças e adolescentes pode auxiliar o professor a saber o que considerar na etapa seguinte, de colher evidências de aprendizagem dos alunos, e no planejamento para o segundo semestre.
Para organizar os registros do que foi feito durante a primeira metade do ano, a professora Kátia Chiaradia, professora e autora de materiais pedagógicos, elaborou a série de planilhas "Planejamento de Objetivos de Aprendizagem".
Partindo dos Mapas de Focos da BNCC, elaborados pelo Instituto Reúna, com o objetivo de auxiliar as escolas na flexibilização curricular, a professora organizou as habilidades focais e seus objetivos de aprendizagens em planilhas. A partir do que os professores indicarem como "contemplado", um relatório é gerado automaticamente, listando o que ainda precisa ser trabalhado para garantir a progressão das aprendizagens dos estudantes.
As evidências de aprendizagem
Após levantar o que foi feito, o professor precisa saber o que foi de fato aprendido pelos estudantes. Não se trata, contudo, de aplicar provas e dar notas. A proposta é promover diferentes oportunidades para os alunos mostrarem o que sabem e, ao mesmo tempo, revisarem ou aprenderem mais sobre o conteúdo.
O resultado dessa coleta de evidências deve respaldar o planejamento dos professores, um trabalho que pode ocorrer novamente a qualquer momento do semestre para redesenhar o curso das aulas. Na reportagem a seguir, aprofundaremos os caminhos para realizar esse diagnóstico.
O trabalho com diferentes modelos de ensino
Se aprender a ensinar remotamente foi uma das adversidades enfrentadas por todos os professores brasileiros ao longo da pandemia, agora as aprendizagens adquiridas no período podem facilitar a transposição do novo desafio da maioria das escolas: trabalhar com ciclos presenciais e não presenciais.
Em Matemática, a chave está em aproveitar o tempo em sala para mostrar uma variedade de conceitos, exercícios e maneiras de resolvê-los, ampliando o repertório dos estudantes, e destinar a parte de repetições e prática para casa. "Variar as propostas de atividades e mostrar como diferentes estudantes elaboraram seus exercícios e soluções é uma ótima estratégia para aproveitar bem o tempo em sala de aula", recomenda Fabricio.
Para as dúvidas que vão surgir no período remoto, vale apostar nos canais de comunicação já consolidados durante a quarentena e engajar os estudantes na formação de grupos de estudo pelo WhatsApp, em que eles podem se ajudar na resolução dos exercícios.
"Isso não quer dizer que um faz e o outro copia a resposta. Quando compartilho com o outro a minha maneira de resolver a questão, eu não perco a forma como resolvi, mas ganho outra perspectiva, e vice-versa. Além disso, não tem o tempo de espera para voltar presencialmente e tirar a dúvida com o professor, porque a validação acontece entre os pares", reflete o professor Fabricio, que também é coordenador de conteúdo do grupo Mathema.
Para apoiá-los na construção dessa cultura, é possível começar o grupo presencialmente, ainda que mantendo o distanciamento, e depois convidá-los a explorarem esse recurso remotamente.
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