Escrevendo (e opinando) sobre a agricultura no Brasil
10 dicas para garantir a produção de um bom artigo de opinião a partir de uma questão-problema
A produção de um artigo de opinião foi a última etapa do projeto transdisciplinar Agricultura no Brasil, realizado na EE Prof. Jácomo Stávale, em São Paulo. Depois das diferentes abordagens trabalhadas em Geografia, História e Ciências, em Língua Portuguesa, os alunos tiveram de se posicionar a partir da questão-problema “Qual modelo agrário deveria receber mais incentivos do governo federal brasileiro nos próximos anos: o agronegócio ou a agricultura sustentável?”
Débora Rodrigues Fucidji, professora de Língua Portuguesa há 15 anos, conta que quando recebeu a proposta da colega Mariana Martins Lemes para trabalhar o tema, aceitou na hora. Ainda mais porque o convite foi ao encontro dos conteúdos que já estavam sendo discutidos com as turmas do 9º ano, como, por exemplo, posicionamento crítico, fato e opinião e informação.
A elaboração do artigo de opinião teve duas fases. Na primeira os alunos fizeram um rascunho e só depois de explorar mais as discussões de Língua Portuguesa é que passaram o texto a limpo. Mas como fazer isso com outras temas? A professora Débora dá dez dicas para levar em consideração na hora de ensinar os alunos a escreverem um bom artigo de opinião.
Antes de ler, ouça o relato da professora abaixo:
1 - Explore a intertextualidade e os mais diversos portadores de texto
Com base no tema proposto, alimente as ideias por intermédio de letras de canções, tirinhas, notícias, charges, memes, textos científicos, artigos de opinião e tantas possibilidades e olhares sobre a questão. Além de reflexão e diálogo, estudos gramaticais, emprego da norma culta e dos operadores argumentativos, coerência e coesão, podem ser trabalhados.
2 - Promova espaços para o diálogo e a pluralidade de ideias
As competências socioemocionais estão aí. Saber expor e não impor sua opinião tornou-se uma habilidade a caminho do respeito aos direitos humanos e à diversidade. Também o repertório adquirido pelos alunos os permitirá construir com propriedade a argumentação.
3 - Instigue seus alunos a perguntar
Quantos questionamentos, dúvidas, reflexões podem surgir com base em um mesmo tema! Por isso, organizar uma aula no levantamento dessas questões por parte de seus alunos pode ser surpreendente. Oriente-os à relevância de seus apontamentos: se dividem a opinião pública, desenvolvem papel social ou político, por exemplo.
4 - Apresente a estrutura do texto
São muitas as atividades que podem ser desenvolvidas com o intuito de demonstrar a sistematização do pensamento crítico em um texto de opinião. Atender à proposta passa pela compreensão dessa estrutura, não como modelo estanque, mas para perfazer etapas, as quais constituirão um “todo” coeso, coerente e significativo.
5 - Valorize o momento de o aluno pensar no que vai escrever
Na hora de colocar a mão na massa, procure não começar pelo texto propriamente dito. Partindo para as ações individuais, oriente o aluno a elencar as ideias que corroborem o que ele pensa acerca do tema. Por exemplo, o aluno registrará, em tópicos, as ideias que lhe ocorrerem e as que deseja aproveitar dos textos motivadores. Depois ele as separará, conforme o roteiro apresentado. Assim, a transformação de todas essas informações, articuladas e correlacionadas, fará sentido, conforme o posicionamento do redator.
6 - Elabore um roteiro norteador, um esqueleto do texto, segundo sua proposta
Pode parecer limitador, “engessado”, porém, à medida que o aluno vai se tornando cada vez mais autônomo, compreendendo a dinâmica do gênero e do tipo textual, essas indicações serão substituídas por determinantes da autoria desse aluno.
7 - Defina critérios para a autoavaliação
Voltar ao início da produção individual escrita, retomar as etapas desse processo colocando-se como leitor é extremamente importante. Criticidade para avaliar a clareza, rever a ortografia e fazer os reparos necessários garantirão um resultado mais satisfatório.
8 - Envolva os alunos na correção
A devolutiva também é importante no aprendizado. Seja individual, com apontamentos pontuais do professor, seja por amostragem, coletiva, troca de textos ou em grupos de alunos, a correção transforma os chamados “erros” – inadequações, na verdade, em oportunidades para rever e aprender. Essa etapa pode ser dinamizada com gincanas. Por exemplo: selecionar “pérolas” (há um modelo informal que parte do ENEM e os alunos conhecem essa dinâmica) e lance desafios de reescrevê-los, adequando-os à modalidade culta. Não economize criatividade e bom humor.
9 - Mostre aos alunos produções exitosas
Analisar o que precisa ser refeito é positivo, ter contato com outras produções da mesma proposta e refletir no porquê de estarem adequadas pode ser esclarecedor para aquele aluno que ainda não demonstra as habilidades requeridas no processo.
10 - Finalize com a reescrita dos textos
Com todas essas etapas trabalhadas detalhadamente, esperamos que a reescrita seja mais uma oportunidade para os alunos identificarem deslizes e inadequações, por meio das quais poderão trabalhar as habilidades em desenvolvimento.
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