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Paulo Freire, 100 anos: o que o educador pode ensinar aos professores de hoje

Princípios, como escolas mais democráticas e o fortalecimento das trocas entre professores e alunos, seguem relevantes para os desafios atuais da Educação

Ilustração de crianças brincando em frente a escola.
Ilustração: Nathalia Takeyama/NOVA ESCOLA

Setembro de 2021 marca o centenário de Paulo Freire (1921-1997), um dos mais influentes pensadores brasileiros no campo da Educação. O filósofo pernambucano, autor de obras clássicas como Pedagogia do Oprimido, segue relevante um século após seu nascimento: é um dos autores mais citados em pesquisas acadêmicas e seu pensamento continua provocando debates e inspirando professores e escolas no mundo todo – do Brasil à Finlândia, passando pelos Estados Unidos. 

Ideias exploradas por Freire em suas obras, como tornar a escola mais democrática, a centralização do processo de ensino no aluno (e não só no professor) e a importância das trocas e diálogos para a aprendizagem também, são atuais para quem está na linha de frente da Educação hoje.  

O centenário de Paulo Freire acontece em um momento agudo na Educação: após quase dois anos de ensino remoto emergencial, professores e alunos estão voltando para uma escola (e realidade) completamente transformada pelo saldo da pandemia de covid-19 – e com muitos desafios na hora de apoiar a aprendizagem dos estudantes, a quem Freire referia-se em suas obras como "educandos".   

Mas aprender (e ensinar) com base na realidade também é um dos princípios do pensamento freiriano. “E hoje a realidade é a pandemia”, explica Dulce Ferreira, docente do programa de pós-graduação em Educação pela Universidade de São Carlos (UFSCar) e uma das principais estudiosas da obra de Paulo Freire no Brasil. 

Ler, reler e estudar o que escreveu Paulo Freire é relevante para o educador porque, mais do que um método específico de ensino, Freire desenvolveu um novo paradigma para a educação, que extravasa a escola e busca um novo modelo de sociedade, explica Dulce. “Nós que sonhamos com um mundo mais justo, humano, igualitário e democrático, temos a marca do pensamento de Paulo Freire como uma inspiração”, afirma a especialista. 

Além disso, para quem está ensinando hoje, o pensamento freiriano traz pontos interessantes para refletir a respeito da própria prática como docente. Um deles é exercitar a troca de saberes e estreitar os laços entre professores e alunos - o que implica no diálogo e na escuta atenta.

A postura é um passo adiante para chegar em uma aprendizagem significativa, que estimule a curiosidade em aprender, natural a todos nós.
“Freire usa a expressão problematização. Ao invés de darmos a resposta (para o aluno), problematizamos. Ao ajudar as crianças a pensar por si, as estimulamos a buscar soluções para que elas desenvolvam sua capacidade criadora, sempre com um olhar múltiplo”.


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Respostas freirianas para desafios atuais 

Os professores que já têm em sua prática alguns preceitos freirianos, como a preocupação com o entorno e o respeito aos saberes dos alunos, se viram impedidos de aplicar plenamente a troca proposta por Freire com o início da pandemia de covid-19 e o fechamento das escolas em 2020.  

Mas, para Dulce, momentos de crise como a pandemia de covid-19, o fechamento das escolas e os desafios da reabertura dos espaços para os professores e alunos são também oportunos para aplicar o pensamento de Freire. 

“As pessoas acabaram entendendo a Educação como horas sentadas à frente do computador e enviando tarefas”, diz, em referência ao balanço do ensino remoto emergencial iniciado em 2020, com a chegada da pandemia e o fechamento das escolas por medidas sanitárias. “E muitas vezes as escolas privadas são vistas como as que estão educando nos tempos de pandemia e as públicas, por todas as limitações, não”, afirma Dulce.

Para ela, os recursos tecnológicos que entraram na vida dos professores - como o Google Meet ou o Zoom usados para videoconferência ou a facilidade de acesso ao celular - devem ser explorados para aproximar as pessoas envolvidas no processo de ensino e aprendizagem e como ferramentas para educadores e educandos exercitarem um pensamento crítico e emancipador, capaz de abarcar também as dores humanas e respeitar as dificuldades.

Para Freire, o educando deveria aprender a ler a realidade, isto é, conhecê-la, para em seguida adotar uma postura crítica e criativa frente a ela, a fim de transformá-la como sujeito da própria história. “Apesar de mediados pela tecnologia, devemos refletir sobre como estamos vivendo. Assim, aprendemos a ler e a escrever ou aprendemos História ou Geografia a partir da nossa realidade. Este é um dos princípios de Paulo Freire”, afirma Dulce.

 

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