LÍNGUA PORTUGUESA

Atividade: Leitura compartilhada para refletir sobre perdas com os adolescentes

Dirigida a turmas do 6º ao 9º ano, proposta elaborada pela professora Gina Vieira parte da leitura em grupo do livro Os Nove Pentes d’África, de Cidinha da Silva, para abrir o diálogo com as turmas

Fotomontagem de passarinho sobre livro apoiado em mesa.
Crédito: Duda Oliva/NOVA ESCOLA. Fotografias: Hug Kiwi/Unsplash e Andrew McKie/Pexels

Levar para a sala de aula - virtual ou não - temas sensíveis como a morte, o luto, as perdas e as questões de saúde mental exige preparo e sensibilidade da parte dos educadores. Por conta da campanha Setembro Amarelo, o mês costuma ser marcado por atividades de conscientização sobre saúde mental e prevenção ao suicídio. No entanto, mais do que se resumir em ações pontuais, os temas precisam ser encarados com transparência e delicadeza pela comunidade escolar o ano todo. 

No caso das professoras de Língua Portuguesa do 6º ao 9º ano, em especial, a Literatura é um campo fértil para elaborar sentimentos e abrir discussões. 

A pedido do Nova Escola BOX, a professora de Língua Portuguesa na Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal e responsável pelo projeto Mulheres Inspiradoras, Gina Ponte Vieira, idealizou uma proposta de leitura compartilhada do livro Os Nove Pentes d'África, de Cidinha da Silva.


“Vó Berna ao relembrar a conversa com o João achava um jeito de falar conosco sobre a impossibilidade de evitar a morte e também sobre os recados que ela nos trazia. ‘A morte, João, chega para todos os vivos: animais, plantas, gente, até para a água. Quando ela alcança alguém próximo e querido, é um sinal para corrigir coisas desandadas na jornada, ou para afirmar o caminho certo, se as coisas estiverem bem. O importante é encarar a morte como passagem para um tempo de melhor viver’.”

Trecho do livro Os Nove Pentes d'África, da escritora mineira Cidinha da Silva, lançado pela Mazza Edições, com ilustrações de Iléa Ferraz.


A obra conta a história de Francisco Ayrá, artesão que, ao morrer, não só deixa um pente com um significado especial, feito por ele mesmo para cada um de seus nove netos, como também, um legado de amor, admiração, cultura e ancestralidade para todos à sua volta. 

Estreia da autora no universo juvenil, o livro entrou no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) Literário de 2020. Indicação da professora Gina, que há cerca de 30 anos atua na Educação Básica e é formadora da rede pública do Distrito Federal, “o livro é de uma beleza estética extraordinária e pode estimular boas conversas sobre perdas, luto e morte”, segundo a educadora. 

“O luto sempre vem de alguém muito precioso para nós. Quanto maior o vínculo, maior será o luto. O livro trata da relação profunda e amorosa de um avô com os netos. Esse avô morreu e a maneira como a família lida com a morte é muito no sentido de refletir o que ele deixou de legado para cada um”, conta.


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Gina afirma que levar a obra para a sala de aula é interessante porque não estabelece uma verdade absoluta sobre o luto ou a morte, afinal, não existe apenas uma forma para lidar com as perdas. 

Mas, antes de abordar esses temas, é imprescindível que o professor tenha sensibilidade para identificar na turma se algum aluno está passando por uma situação difícil e, eventualmente, necessite de acompanhamento psicológico. “Temas sensíveis pedem a humildade da escola em reconhecer seus próprios limites”, enfatiza. 

Partindo do pressuposto de que o professor já lançou esse olhar para seus alunos, é possível pensar em algumas abordagens para ler a obra com a turma. Confira, a seguir, as sugestões da professora Gina. 

1. Organize uma roda de leitura. O livro tem 56 páginas e pode ser lido ao longo de três aulas. Ou, se preferir, vale estender esse período para duas semanas. Para que a conversa flua espontaneamente, não é necessário dizer aos estudantes que o livro trata, dentre outros temas, de luto e morte. 

2. Priorize a escuta. Em um momento de tantas perdas, insistir em elementos da narrativa, a princípio, não é a melhor abordagem. Por isso, dedique esse tempo a ouvir o que os alunos têm a dizer, como se sentem a partir da leitura do livro e o que isso suscita neles. 

3. Ouça atentamente. O professor será apenas um mediador da leitura. É fundamental deixar que a criança se expresse plenamente, sem censura e sem direcionamento. E, ao ouvi-las, deve-se estar muito atento para perceber quem fala mais, sobre o que se fala e qual o foco dessas manifestações.

4. Proponha uma ilustração. A fim de se aprofundar um pouco mais nas temáticas abordadas, uma boa dica é pedir para os alunos escolherem uma parte do livro para ilustrar, como uma possibilidade a mais de expressão. 

5. Observe os alunos. Ao longo das conversas, é crucial observar se uma criança que perdeu um ente querido tem condições psicológicas de dividir essa experiência com os alunos. Algumas vezes o luto é tão pesado e complexo que a criança não consegue falar. O 'falar' faz parte de uma fase de elaboração, portanto, o professor precisa estar sensível a isso também.

6. Peça para que escrevam cartas. Se na turma há crianças que estão passando por um processo de luto, proponha a escrita de uma carta para o ente querido. Porém, mais uma vez, "sensibilidade" é palavra de ordem nessas atividades. Vale a pena avaliar cada situação, afinal, a pior coisa é provocar algo com o qual o aluno não tem condições de lidar, nem mesmo o professor.  

7. Traga outros elementos à discussão. Se o professor achar que já se esgotou tudo que as crianças queriam falar, discutir e debater, vale pensar em uma atividade mais relacionada àquele gênero textual específico e, aí sim, abordar elementos da narrativa a partir do que os alunos trouxeram durante os diálogos.

8. Deixe que as ideias venham à tona. Não dá para prever o que a leitura vai render, mas permita que as crianças proponham alguma coisa a partir dessa experiência. Se na conversa os alunos apresentarem uma questão pontual, como perceber que muitos colegas perderam pessoas queridas, é possível pensar em propor uma ação. Um bom exemplo é a criação de um memorial para lembrar as vítimas da pandemia, já que rituais como esse são muito importantes para a elaboração do luto.

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