Para se inspirar

Caso real: como o professor Fabrício levou a calculadora para a sala de aula

Conheça o exemplo de um professor que utiliza a ferramenta e descubra quais foram os ganhos de aprendizagem de seus alunos

O professor Fabrício Ferreira com a sua turma na EMEF Prof. Wagner Hage: calculadora para economizar tempo e esforço mental. Foto: Dawison Pinheiro/Nova Escola

Durante a sua formação, o professor de Matemática Fabrício Eduardo Ferreira já usava a calculadora, não com uma função pedagógica, mas sim, para otimizar cálculos mais complexos. Porém, não demorou muito para ele descobrir que os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), o antigo documento referencial comum para a formação escolar no Brasil, dava sinal verde para o uso de calculadora em sala de aula.  

Atualmente, Fabrício trabalha com os anos finais de Matemática na EMEF Prof. Wagner Hage, em Pindorama, interior de São Paulo, e conta como o uso da calculadora se desenvolveu ao longo de duas décadas de docência. “Como a escola é pública, pedi para o meu gestor adquirir uma coleção de calculadoras bem básicas. Nós as entregávamos aos alunos e depois recolhíamos para utilizar com outras turmas. Hoje, 20 anos depois, os alunos utilizam o próprio celular. Em um primeiro momento, eles ficam surpresos, porque os próprios professores não deixam usar o aparelho em sala”, comenta. 

Segundo Fabrício, o principal objetivo da calculadora é promover a economia de tempo e esforço mental utilizado para realizar contas, atividades que se tornam mecânicas ao longo da vida escolar do aluno. Um bom exemplo do uso da ferramenta em sala é quando surge a necessidade de calcular uma raiz quadrada não exata, como a do 7. “O resultado é um número irracional e a turma levará quase a aula inteira para fazer esse cálculo. Dar esse conteúdo sem a calculadora é fazer os alunos treinarem multiplicação com número decimal, sendo que o objetivo não é esse”, comenta. 

“Com a calculadora, nós discutimos, fazemos testes, levantamos hipóteses e aos poucos chegamos ao resultado até eles perceberem que se trata de um número irracional. Isso porque a ferramenta liberou o tempo para que pudéssemos pensar”, diz o professor, que acrescenta que com o uso dela a chance de os alunos não compreenderem o que é um número irracional diminui. 

Calculadora com objetivo 

O tempo economizado pelo uso da calculadora permite aos alunos levantar hipóteses, fazer testes e discutir o melhor jeito de resolver o problema. Foto: Dawison Pinheiro/Nova Escola 

Antes de levar a calculadora para a sala de aula é importante que o docente tenha muito claro qual é seu objetivo. Na hora da aprendizagem de uma conta, por exemplo, não é recomendado lançar mão da ferramenta. Já em momentos em que outros pensamentos matemáticos estão sendo explorados, a calculadora pode e deve ser um auxílio. 

O professor Fabrício lembra, por exemplo, que já permitiu o uso da calculadora durante uma avaliação pelos alunos do 8º ano. “Eu já havia verificado que eles dominavam resolver o sistema. Então, por que pedir para gastarem tempo fazendo essas contas? O meu objetivo era avaliar se eles sabiam modelar e resolver sistemas surgidos de problemas”, justifica. 

A proposta está de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que incentiva o uso de calculadora e de outras tecnologias. “Eu tinha de fazer resumos e um milhão de exercícios para aprender, mas os alunos de hoje são de outra geração. Eles adoram tecnologia, são multitarefa e aprendem de maneira diferente. As pessoas acham que levar tecnologia para a sala de aula é gastar dinheiro com tablets e outros recursos, mas uma calculadora bem usada já é um grande ganho”, comemora. 

No começo, alguns colegas de Fabrício foram relutantes quanto ao uso da ferramenta, mas logo perceberam que havia muitos ganhos. O docente, que é também mentor no Time de Autores de NOVA ESCOLA, lista uma série de dicas e atitudes capazes de facilitar esse trabalho pedagógico com a calculadora: 

Não tenha preconceito
Assim como acontece com a adoção de outras tecnologias, o primeiro passo é abrir a cabeça para as novas possibilidades que o recurso pode trazer.

Planejamento é tudo
Desenvolver atividades bem pensadas e com objetivos de aprendizagem bem-sucedidos é essencial para o trabalho dar certo. 

Não ache que os alunos vão ficar “ruins de cálculo”
Não é recomendável que a calculadora seja usada na hora em que o aluno está aprendendo a fazer uma conta, mas quando esses conceitos já estão bem sedimentados a ferramenta pode entrar em cena para economizar tempo e desenvolver outras habilidades

Comece simples 
Inicie com atividades simples e vá avançando na complexidade conforme se sentir mais confortável e confiante. Lembre-se: se a calculadora está aí, é para ser usada! 

Mais sobre esse tema