Para repensar a escola

Como e quando fazer uso da calculadora?

Um guia para explorar a ferramenta com as suas turmas no Fundamental 2

A calculadora iniciou o debate sobre a adoção da tecnologia na escola. Foto: Dawison Pinheiro/Nova Escola

A primeira ferramenta para calcular surgiu no século 6 antes de Cristo, o ábaco, e a primeira calculadora em 1642. Mas já estamos no século XXI, muitos professores ainda não utilizam esse importante recurso pedagógico em sala de aula. 

“Foi a calculadora que iniciou a discussão sobre uso da tecnologia na escola, mas seu uso ainda encontra bastante resistência porque alguns professores são muito apegados ao cálculo”, diz Fernando Barnabé, diretor pedagógico da Rede Trilhas do Saber e diretor da Edu.Co Ensino e Consultoria. “Mas ninguém precisa ser uma calculadora humana, precisa saber raciocinar”, complementa. 

Segundo ele, o primeiro passo para quem deseja começar a utilizar a calculadora é fazer uma avaliação da turma para verificar o quanto eles sabem de cálculo e quais suas dificuldades. Isso porque o aparelho não deve ser utilizado para que o aluno faça contas que não saiba realizar de outros modos. 

Depois, é preciso conversar com a gestão da escola sobre a possibilidade de adquirir uma determinada quantidade de calculadoras. Caso isso não seja possível, ou para fazer cálculos mais complexos, oriente os alunos para que utilizem as calculadoras de seus smartphones, que quando colocado na posição horizontal se transforma em uma calculadora científica.

E não pense que o uso da ferramenta exclui definitivamente a realização de cálculos mentais ou escritos. “O professor precisa desenvolver no aluno a capacidade de escolher qual a melhor procedimento para resolver o problema com os dados que ele tem. Ele precisa saber se é melhor buscar o resultado com lápis e papel, mentalmente ou se a calculadora será mesmo necessária”, orienta Cristiane Chica, gestora pedagógica do Mathema.

A adoção da calculadora não impede o desenvolvimento de cálculos mentais e outras estratégias de resolução. Foto: Dawison Pinheiro/Nova Escola

É importante lembrar também que o uso da calculadora já era indicado nos Parâmetros Curriculares Nacionais e agora é recomendado pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) “Hoje, a gente propõe que a sala de aula seja um ambiente de investigação e pesquisa matemática. E o que está na mão de todos que pensam matemática ao redor do mundo? No mínimo uma calculadora, além de softwares sofisticados”, defende Luciana Teneuta, consultora na área de formação de professores de Matemática e especialista do Time de Autores de NOVA ESCOLA. 

Priscilla Cerqueira, que trabalha como formadora do Mathema, reforça que, quando se utiliza a calculadora com fins pedagógicos, o foco não está nos algoritmos, mas sim no raciocínio: “As atividades precisam ter uma intencionalidade, gerar uma aprendizagem e ter um fechamento: o que eu aprendi, onde avancei, quais conhecimentos ampliei?”, aconselha. Mesmo que a aula seja curta, reforça ela, essas perguntas precisam ser respondidas, ou o professor não conseguirá mensurar os ganhos. 

A calculadora também favorece o desenvolvimento de algumas atividades essenciais: conjecturar, levantar hipóteses, fazer análises, verificar processos e procedimentos. 

“Se conseguirmos integrar a calculadora com a comunicação, fazendo com que o aluno anote, escreva, relate e compare com o raciocínio do colega, o trabalho fica ainda mais rico”, explica Cristiane. Ela diz ainda que o maior trabalho a ser feito é em relação à formação de professores, que não podem mais acreditar que os alunos deixaram de pensar matematicamente por conta de um instrumento externo.  

E o que fazer caso a escola, ou mesmo a lei municipal ou estadual, proíba o uso do celular em sala de aula? “Será que ainda estamos no momento de proibir ou é melhor refletir sobre o uso do celular, trazer a discussão para mostrar que existem momentos em que não vamos atendê-lo, deixar desligado, no silencioso, usar pedagogicamente? É melhor liberar para que se possa fazer uma formação sobre o bom uso do aparelho. Isso ajudará no trabalho com Matemática e na formação do sujeito”, opina Luciana Teneuta. 

 

SAIBA MAIS

O uso da calculadora nos anos iniciais do ensino fundamental, de Ana Coelho Vieira Selva e Rute Elizabete S. Rosa Borba. Grupo Autêntica 

Informática e Educação Matemática, de Marcelo de Carvalho Borba e Miriam Godoy Penteado. Grupo Autêntica 

Fases das tecnologias digitais em Educação Matemática - Sala de aula e internet em movimento, de Marcelo de Carvalho Borba, Ricardo Scucuglia Rodrigues da Silva, George Gadanidis. Grupo Autêntica 

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