Para repensar a escola

O que você vai falar na sua aula em 2020?

Boas práticas para incluir datas e efemérides no planejamento

O que pode sair do calendário para entrar na sala de aula? Ilustração: Duda Oliva/Nova Escola



Em resumo
- Selecione as datas comemorativas que deseja abordar pensando no contexto da escola, na relação delas com os conteúdos curriculares presentes na BNCC e com o PPP; 
- Caso o professor e a escola julguem que certa data é relevante, avalie como ela pode ser trabalhada ao longo do ano - e não apenas no dia em si, desarticulada do que é ensinado no resto do ano;
- Com tempo e planejamento é possível garantir um trabalho mais interdisciplinar e integrado;
- Cuidado com o excesso: não se preocupe em cumprir todas as efemérides do calendário, e sim escolha algumas datas para serem trabalhadas naquele ano e naquela turma;



Janeiro é mês de planejar todo o conteúdo que será trabalhado em aula no bimestre, semestre ou ano. Mas, diante de um calendário tão recheado de datas comemorativas, marcos históricos e de efemérides - aqui e no mundo -, o que de fato pode ser transposto para o ambiente escolar e apoiar o aprendizado das mais variadas disciplinas? 

Para a doutoranda em Educação e professora do Instituto Singularidades, Denise Rampazzo, coordenador pedagógico e professores precisam, primeiramente, avaliar quais as possibilidades de aporte de conhecimento que os temas dispostos no calendário poderiam trazer. Na sequência, é preciso pensar em como as datas escolhidas se relacionariam com os conteúdos curriculares indicados para cada ano. “Importante entender as habilidades que precisam ser trabalhadas e que constam na Base [Nacional Comum Curricular], para só depois escolher o tema do calendário que será trabalhado; e não o contrário”, afirma.

A escolha das datas precisa ainda se encaixar no projeto político-pedagógico da escola, alerta Catarina Iavelberg, assessora psicoeducacional especializada em Psicologia da Educação. “Um exemplo: dia 20 de novembro, da Consciência Negra. Se o tema é caro à escola, não se trata apenas de pensar em uma atividade pontual para marcar a data. A escola deve pensar em como trabalhar o tema ao longo de todo o ano letivo, pensar nas entradas curriculares para ele”, detalha.

Fatos históricos, datas fixas no calendário, eventos sazonais anuais - como eleições e olimpíadas, campanhas estabelecidas mensalmente - como o Setembro Amarelo, por exemplo:  todos podem ganhar espaço para ser trabalhados anualmente.  

O mesmo pensamento vale para a definição ou não de trabalhos relacionados a datas religiosas, como a Páscoa e Corpus Christi, cuja origem está no catolicismo. Pela Constituição da República, o Brasil é um Estado laico e, em teoria, a escola pública deveria se desvincular de assuntos religiosos. Ainda assim, em quase todas as unidades públicas de ensino há algum tipo de comemoração.

Datas religiosas, no entanto, podem ser uma boa oportunidade para tratar de diversidade de crença: “Ótima chance para estudar outros calendários religiosos e trabalhar processos de investigação e de pesquisa sobre origens, características e similaridades entre matizes religiosas diversas”, sugere Catarina.

O contexto da escola também importa, e muito. Se o aniversário de uma cidade mobiliza toda a população para preparar um desfile, a ocasião pode gerar uma atividade ou projeto mais longo a ser trabalhado em sala de aula. “A escola pode e deve criar relações com os marcos culturais da região e aproveitar as datas para dialogar e ampliar o conhecimento sobre elas. O importante é avaliar: o que as crianças estão ampliando de conhecimento aqui?”, indica Maura Barbosa, coordenadora pedagógica da Comunidade Educativa CEDAC. 

A UI Gumercindo Paixão Fernandes, em Miranda do Norte (MA), planeja anualmente diversas atividades em torno da festa junina. Assim como acontece em tantas outras escolas nordestinas, a data tem forte apelo cultural e mobiliza a comunidade escolar e local. Mas a festa é só o ápice de um trabalho de várias etapas e que é detalhado em sala de aula em muitas disciplinas: “Este ano, estimulamos os alunos a buscarem histórias das festas antigas realizadas na cidade. Eles trouxeram moradores idosos para falar das músicas, brincadeiras, que foram trabalhadas nas disciplinas de História e Língua Portuguesa; na disciplina de Ciências, estudaram as comidas feitas tradicionalmente”, explica a supervisora pedagógica Maria da Conceição Nunes.

Tempo para desenhar todo esse cronograma de atividades é vital. “O trabalho docente precisa ter intencionalidade, mas também planejamento. Se a escola não oferece esse tempo, a tendência é o professor trabalhar mais isoladamente”, reforça Denise, do Instituto Singularidades. Assim, com tempo, é possível garantir um trabalho mais interdisciplinar e integrado. 

No entanto, lembre-se: mais importante do que trabalhar todas as efemérides da folhinha é eleger aquelas que podem ser mais bem trabalhadas naquele ano e para aquela turma. “Senão, nem os alunos aguentam tanta atividade”, afirma Maura, da Comunidade Educativa CEDAC.

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