Para se inspirar

Eleições em sala de aula

Como estimular a cidadania e trabalhar as eleições municipais nas diferentes disciplinas

Simular uma eleição entre os alunos é uma atividade possível para aproveitar o pleito de 2020. Ilustração: Duda Oliva/Nova Escola

Este ano de 2020 é de eleições municipais. Ótimo momento para coordenadores pedagógicos e professores avaliarem as práticas curriculares para potencializar um trabalho de formação cidadã que pode - e deve - se estender por toda a Educação Básica. 

Reflexões sobre os sistemas políticos, as estruturas dos poderes e a participação popular devem constar nos planejamentos escolares de anos eleitorais e também nos demais. “Não dá para falar sobre processo político e democracia apenas em ano de eleição. O pleito é só um dos temas da democracia”, pontua Catarina Iavelberg, assessora psicoeducacional especializada em Psicologia da Educação. “O exercício político precisa ser debatido anualmente.”

Para a especialista, a escola não pode se ausentar da função social de educar para o exercício da cidadania, “o que é uma maneira essencial de praticar política”.

Uma ideia para trabalhar de forma mais real com alunos do Ensino Fundamental 2 - que ainda não são eleitores por lei - é colocar em prática o exercício político em grêmio estudantil ou na representação de classe, por exemplo. Quais são as obrigações de quem for exercer essa função? O que os alunos da classe poderão exigir do representante? Haverá a definição de um compilado de normas com direitos e deveres para todos, assim como é a Constituição Federal? Dessa forma, o exercício em sala poderá traçar paralelos com os pleitos do Poder Executivo e ajudarão os estudantes a compreender as estruturas que ordenam o sistema político brasileiro.

Calendário eleitoral 

De qualquer forma, a escola pode pensar, sim, em atividades apoiadas no calendário eleitoral, já que os períodos são importantes para amplificar a comunicação sobre o tema na sala de aula. Simulações de eleições, com organização de candidaturas fictícias, campanhas políticas e votação podem ser um exercício interessante se a escola já tiver um conteúdo programado para antes e para depois dos pleitos oficiais, de forma a traçar um fio condutor entre o planejamento pedagógico dos anos anteriores aos dos seguintes.

Reconhecido pelo Prêmio Professores do Brasil de 2012, o projeto Meu Voto, meu futuro, desenvolvido pelo professor Adonias Sousa de Oliveira,  idealizou a EMEF Antônio Oliveira Santana, localizada em Breu Branco (PA), como uma cidade hipotética: as salas foram consideradas bairros, e alunos e funcionários como seus habitantes. Nesse cenário, foi realizado o trabalho de simulação de uma eleição, que só pode contar com candidaturas de estudantes dos anos finais do Fundamental.

“A metodologia utilizada possibilitou aos alunos fazerem uma avaliação dos serviços públicos oferecidos no seu município, e eles, na condição de candidatos apresentaram um plano de governo”, descreveu  o professor no projeto inscrito no prêmio. “Paródias, cartazes, debates, visita a órgãos públicos, pesquisas, textos, apresentações, produções e outras atividades certamente solidificaram a aquisição do conhecimento”, detalhou.

As escolas também podem optar por atividades com foco nas eleições oficiais, com debates e análises das propostas dos candidatos, por exemplo. Esmiuçar os planos de governo de cada chapa pode estimular a compreensão dos alunos sobre posicionamentos ideológicos e receber contextualizações históricas sobre movimentos como comunismo, capitalismo, socialismo e demais ideologias. Além disso, observar com atenção planos de governo também está conectada com habilidades da BNCC como a EF69LP27, que pede para os alunos analisarem “a forma composicional de textos pertencentes a gêneros normativos/jurídicos e a gêneros da esfera política, tais como propostas, programas políticos (posicionamento quanto a diferentes ações a serem propostas, objetivos, ações previstas etc.), propaganda política (propostas e sua sustentação, posicionamento quanto a temas em discussão) e textos reivindicatórios: cartas de reclamação, petição (proposta, suas justificativas e ações a serem adotadas) e suas marcas linguísticas, de forma a incrementar a compreensão de textos pertencentes a esses gêneros e a possibilitar a produção de textos mais adequados e/ou fundamentados quando isso for requerido”.

E a polarização?

Mas como tratar de política em um momento histórico tão polarizado quando o atual? “Os docentes devem deixar de lado o tom partidário e discutir as questões relacionadas às eleições sem colocar as suas preferências pessoais”, pontua Maura Barbosa, coordenadora pedagógica da Comunidade Educativa CEDAC. Embora a escola deva ser apartidária, sem estimular o apoio a candidaturas específicas, vale lembrar que ela deve estimular a cidadania e o pensamento crítico. “O importante é estimular a reflexão, e não a polarização entre os alunos”, analisa Catarina.

“Precisamos colaborar para que os alunos compreendam a complexidade dos problemas sociais e a intrínseca relação entre questões políticas, econômicas e culturais. Ao fim da escolaridade, eles devem ser capazes de ler a sociedade como uma rede constituída de conflitos e contradições”, analisa a especialista.

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