Entenda o impacto do degelo do permafrost
Como o derretimento do solo congelado, típico das regiões mais frias do planeta, pode agravar ainda mais as mudanças climáticas
Nos polos do planeta existe um tipo de solo chamado permafrost ou Pergelissolo. Trata-se de uma camada de terra subterrânea constantemente congelada e que guarda em seu interior resquícios da Era do Gelo, como vestígios de animais, plantas e micro-organismos que estão lá há 20 mil anos - segundo algumas datações feitas por cientistas. Além de ocupar cerca de 25% da superfície exposta do Hemisfério Norte - em partes da Rússia, China, Canadá, Estados Unidos (Alasca), Groenlândia e pontualmente na Escandinávia e Alemanha -, essa formação também ocorre em regiões montanhosas da América do Sul e da Antártida.
O permafrost é protegido por uma camada de solo, chamada de camada ativa, que congela e descongela nas trocas de estações. Até 30 décadas atrás, essa variação de temperatura sobre a camada ativa não interferia no estado do permafrost. Porém, de lá para cá, o planeta tem registrado aumentos significativos na temperatura. De acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), a Terra está agora quase 1 grau Celsius mais quente do que estava antes do processo de industrialização. As mudanças na camada ativa passaram a ser tão severas que começaram a afetar a camada mais profunda - ou seja, o permafrost propriamente dito.
O congelamento e o descongelamento de partes dessa estrutura, até então intocada, têm tornado esse solo mais poroso, fazendo-o mais vulnerável à erosão.
Em regiões litorâneas, como na costa do Ártico, as ondas - cada vez maiores por causa do derretimento das geleiras que elevou o nível do mar - provocam um tipo de erosão que expõe a camada do permafrost. Já em áreas no interior dos continentes, o solo está literalmente afundando. Moradores de comunidades locais estão perdendo suas casas, engolidas pelas crateras.
Carbono aprisionado
O descongelamento do permafrost tem revelado ossadas de animais extintos há milhares de anos, como bisões, mamutes e lobos. Mas o que é um achado para os paleontólogos aciona um sinal de alerta para geólogos, ambientalistas e pesquisadores das mudanças climáticas do planeta.
Pela composição rica em elementos orgânicos - animais, plantas, micro-organismos -, o permafrost acumula grandes massas de carbono, até então aprisionado na terra. Com o processo erosivo em curso, gases como metano e dióxido de carbono são jogados na atmosfera. Assim, cria-se um ciclo perigoso: o aquecimento global expõe o permafrost que, por sua vez, libera mais carbono no planeta, acelerando ainda mais as mudanças climáticas.
Estima-se que para cada aumento de 1 grau Celsius na temperatura média do planeta, o permafrost possa liberar o equivalente a quatro a seis anos de emissões de carvão, petróleo e gás natural pela atividade humana. Dentro de alguns anos, este poderá ser uma fonte de carbono tão grande quanto a China, que hoje é o país que mais polui no mundo.
"Estamos vendo a tendência de aquecimento em muitos dos locais que estamos monitorando, mas nunca vimos nada parecido com isso", afirmou Carlos Schaefer, ao jornal inglês The Guardian, em fevereiro, quando a Antártida registrou pela primeira vez na história uma temperatura maior do que 20 graus. Schaefer trabalha no Terrantar, projeto do governo brasileiro que monitora o impacto das mudanças climáticas no permafrost e na biologia em 23 locais na Antártica.
Saídas possíveis
Em 2016, a Organização das Nações Unidas convocou 195 países, que representam em torno de 55% da emissão de gases de efeito estufa do mundo, a assinarem o Acordo de Paris. Por esse compromisso, cada nação se comprometeria a adotar medidas para conter o aquecimento global. Até 2017, apenas 147 países haviam ratificado o acordo. Ainda estão de fora grandes poluidores, como Estados Unidos e China, que, juntos, são responsáveis por mais de 40% do total global de emissões, segundo dados de 2017 do Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia.
Além da mobilização dos governos para redução das mudanças climáticas, atitudes individuais também podem colaborar para melhorar o quadro do aquecimento global. Em relatório divulgado em 2019, após sessão do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a ONU recomendou a mudança de hábitos alimentares. Além de evitar desperdício de alimentos, o documento sugere a redução no consumo de produtos de origem animal, que são grande fonte geradora de carbono.
Outras ações que colaboram para a redução da emissão de gases de efeito estufa e que estão ao alcance da população: consumir alimentos de época, que estão na safra; trocar o carro por bicicleta ou transporte público; secar roupas no varal e não em secadora; controlar desperdício de água; e reduzir o número de luzes acesas sem necessidade, entre outras ações.
SAIBA MAIS
4 fontes para entender mais sobre o permafrost:
- Reportagem da revista National Geographic (em português) - Disponível aqui
- Animação criada pelo Instituto Alfred Wegener de Pesquisa Polar e Marinha (AWI), instituição de pesquisa alemã sobre o permafrost (em inglês) - Assista aqui
- Relatório sobre permafrost de autoria da Organização das Nações Unidas - Meio Ambiente (em inglês) - Confira aqui
- Página da ONU com todos os relatórios produzidos sobre as mudanças climáticas mundiais (em português) Acesse aqui
Mais sobre esse tema