FOI BOM OU PODE MELHORAR

Os aprendizados dos educadores com as ferramentas digitais, em Louveira e no Brasil

Professores e especialistas apontam a familiarização com a tecnologia e a relação com a família como pontos positivos, mas também identificam barreiras comunicacionais e dificuldades para adaptar propostas

Professores de todo o país testaram diferentes modos de continuar propondo atividades de forma remota. Foto: Ricardo Lima/NOVA ESCOLA

A pandemia de covid-19 chegou, fechou creches, escolas, e não teve jeito: sabendo ou não lidar bem com a tecnologia, muitos professores precisaram começar a utilizá-la de alguma forma. A solução escolhida por grande parte foi oferecer aulas por meio de videochamadas e enviar listas de exercícios. Mas o que fazer no caso da Educação Infantil, em que o foco está nas atividades práticas e lúdicas?

Ao longo dos meses, professores de todo o país testaram diferentes modos de continuar propondo atividades de forma remota utilizando a tecnologia como aliada do processo de desenvolvimento, ensino e aprendizagem. NOVA ESCOLA conversou com educadores e especialistas para saber o que foi bom, o que pode melhorar e o que ainda pretendem experimentar em relação ao uso das tecnologias na etapa da Educação Infantil.


FOI BOM

Familiarização com a tecnologia

Evandro Tortora, professor de Educação Infantil e colunista de NOVA ESCOLA

“O grande ganho desse período foi a aproximação com a tecnologia. Professores que nunca tiveram formação tecnológica utilizam agora edições de vídeo, aplicativos e jogos como recurso pedagógico para enriquecer o contato das crianças. E como elas já estavam nesse meio, por que não oferecer conteúdos digitais mais interessantes?”

Relação escola-família

Júlia Cravo Della Serra, coordenadora do Centro Educacional de Convivência de Educação Infantil (CECI) Herdeiros do Futuro

“Percebemos que estamos tendo um contato muito maior com as famílias. Por trabalharem, muitos pais não conseguiam comparecer nas reuniões na creche e conversar com as professoras e comigo, mas pelo WhatsApp eles se envolvem mais do que faziam no modelo presencial. O contato pelas redes sociais deu mais certo do que esperávamos.”


PODE MELHORAR

Barreiras comunicacionais

Evandro Tortora

“Alguns mal-entendidos são mais difíceis de ser solucionados a distância, pois há várias barreiras comunicacionais nas redes sociais. Não estamos mais no espaço escolar, estamos entrando na casa das pessoas e nos comunicando pelo número privado delas e pelo nosso. Por conta de um mal-entendido, já teve família que me bloqueou no WhatsApp.”

Nas próximas vezes... “Precisamos explicar melhor para os pais que o nosso objetivo é não deixar nenhuma criança para trás, por isso insistimos em manter o contato. Mas entendo que é uma questão que envolve a intimidade de cada família, que também precisa ser respeitada.”

Propostas adequadas para o contexto

Íris Ribeiro de Sá, mestre em Gestão em Tecnologias Aplicadas à Educação pela Universidade do Estado da Bahia

“O que muitos professores estão fazendo ainda é um improviso, eles estão presos ao formato de aula que davam presencialmente e tentam encaixá-lo no virtual. É preciso incrementar as propostas remotas com recursos específicos para esse novo formato.”

Nas próximas vezes... “O professor pode fazer um diagnóstico com as crianças e incorporar às propostas coisas que elas gostam de assistir e jogar (de acordo com a idade e com o que for possível). Não dá para concorrer com o YouTube, mas dá para usá-lo como recurso pedagógico. E as redes e escolas precisam investir na cobertura tecnológica. As escolas não estão tendo gasto com energia elétrica, cantina e produtos de limpeza. Essa verba poderia ser utilizada para oferecer acesso à internet para quem não tem.”


PARA REPENSAR

Nem tudo é possível

Íris Ribeiro de Sá

“Há experiências que só o presencial traz e são inalcançáveis a distância. Para as crianças, o contato físico é muito importante e conversar por uma tela é muito diferente. Algumas coisas não podem ser alcançadas por meio de um computador, por isso devemos valorizar mais os abraços quando estes forem possíveis. Aceitar que não conseguimos fazer isso por uma máquina é um luto necessário.”

Respeito às condições de acesso das crianças

Júlia Cravo Della Serra

“Desde o começo deste processo estamos testando e aprimorando formas de manter o contato com as crianças. Queremos muito, mas ainda não tentamos fazer lives e videochamadas com elas. Acho que, de vez em quando, pode ser válido usar esses recursos para ajudar a matar a saudade, mas ainda não encontramos uma forma de não excluir quem não tem acesso à internet dessa experiência.”

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