A importância de trabalhar nome próprio na Educação Infantil
Além de ser elemento-chave na constituição da identidade, um dos direitos de aprendizagem indicados na BNCC, o nome permite iniciar as reflexões de como a língua escrita se estrutura
A vida cotidiana, o que é familiar às crianças e importante para o desenvolvimento social delas, é questão que marca com força o currículo da Educação Infantil. Embora o nome próprio não seja citado nominalmente na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), ele tem tudo a ver com essa perspectiva social.
O trabalho com ele permeia um dos direitos de aprendizagem e desenvolvimento da Educação Infantil, que trata de, como indivíduo, se conhecer e construir sua identidade pessoal. O nome próprio também marca, na Base, o campo de experiências O eu, o outro e o nós, que diz respeito à construção de percepções e questionamentos sobre si e sobre os outros por meio de interações. E se relaciona com o campo Escuta, fala, pensamento e imaginação, que aborda a curiosidade manifestada pelas crianças com relação à cultura escrita para conduzir o desenvolvimento da concepção de língua escrita, reconhecendo os diferentes usos sociais dela.
Segundo Karina Rizek, consultora da Avante Educação e Mobilização Social, a BNCC parte do fato de que o nome próprio é uma questão de identidade e usa essa ideia para potencializar o entendimento de como a língua escrita se estrutura, a alfabetização. “O nome próprio é um elemento a serviço do desenvolvimento da autonomia e, consequentemente, da leitura e da escrita. Dessa forma, fica claro que a BNCC recomenda uma progressão da aprendizagem e lista muitas habilidades que têm a ver com ele”, explica Karina.
Na Educação Infantil, o ideal é de que tudo aconteça ao sabor de brincadeiras e interações entre as próprias crianças e delas com os adultos. E existe espaço nessa história para o uso do nome próprio – com bebês, crianças bem pequenas e crianças pequenas. O nome de cada um é elemento-chave para o planejamento de muitas situações para a turma ter experiências com narrativas, apreciação e interação com a linguagem oral e escrita. “A exploração do nome próprio na Educação Infantil tem de ser feita sempre com propósito social”, reforça Karina.
O descobrir do eu e do outro
O trabalho com a identidade e a autonomia entra em cena quando se permite e se estimula que os pequenos interajam com os colegas, se comuniquem, expressem suas vontades, emoções e preferências. Também fazem parte desse rol incentivos para que resolvam conflitos (com a mediação de um adulto), demonstrem empatia pelos outros e desenvolvam atitudes de participação e cooperação.
Note o quanto a figura do eu e a figura do outro são colocadas em jogo nessas situações e o quanto é preciso que o nome dos pequenos seja posto em cena. De acordo com Silvia Fuertes, coordenadora pedagógica da Comunidade Educativa CEDAC e formadora de cursos na plataforma CEDAC Virtual, refletir sobre o nome como constituinte da identidade das crianças e como peça importante para diferenciar cada uma delas em relação aos demais é crucial para o planejamento da Educação Infantil.
É nessa etapa inicial da Educação, aliás, que as crianças começam a se reconhecer no mundo e conhecem os outros. Não é à toa, inclusive, o quão marcante é o momento em que, ainda bebês, a maioria começa a perceber quando é chamada pelo nome e dá os primeiros passos no reconhecimento do nome de pessoas com quem convive em casa e na creche.
Ler, escrever, apreciar
Sobre a questão das experiências de narrativas, apreciação e interação com a linguagem oral e escrita e a relação disso com o nome, acontece uma mistura harmoniosa com os momentos de desenvolvimento da identidade e da autonomia. Como exemplo, basta pensar nas rodas de conversa, feitas para começar e encerrar o dia na escola, quando as crianças são convidadas a falar e ouvir sobre o que aconteceu, o que foi feito por elas etc. E vale também pensar nas rodas de leitura, marcadas não somente pela história ou poema escolhido para ser lido em voz alta, mas pelo momento em que a palavra é dada aos pequenos para que manifestem gostos e preferências e aprendam a ouvir a fala dos colegas.
Ao manusear diferentes instrumentos e suportes de escrita para desenhar, traçar letras e outros sinais gráficos, as crianças descortinam um mundo cheio de possibilidades. Justamente por ser uma palavra estável, recorrente e útil no dia a dia, o nome próprio desperta muito interesse. Por isso, sem ter o objetivo de alfabetizar, é importante investir em oportunidades para que os pequenos escrevam, mesmo sem saber escrever convencionalmente. Tal como deixar à disposição deles cartões de nome e investir em tarjetas que indicam onde cada um guarda seus pertences, dentre outros elementos de registro do nome.
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