Para pensar a prática

O que considerar para planejar intervenções com nome próprio

Confira sugestões para elaborar atividades de construção de identidade na creche e de trabalho com escrita e leitura para as crianças da pré-escola

Os cartões com foto e nomes dos colegas de turma, enviados pela escola, ajudam Domênico, de 3 anos, a realizar em casa atividades de construção de identidade.
Os cartões com foto e nome dos colegas de turma, enviados pela escola, ajudam Domênico, de 3 anos, a realizar em casa atividades de construção de identidade. Foto: Lana Pinho/NOVA ESCOLA

Uma das informações mais importantes sobre o nome que carregamos todos os dias, por toda a vida, fica esquecida no fundo do baú a maior parte do tempo: sua história. Por que temos o nome que temos? É uma homenagem para um parente distante ou de outros tempos? Foi escolhido porque é o mesmo de um personagem de tevê ou de uma história bonita? Foi preferido porque encanta pela sonoridade, pelas letras usadas? Faz parte de uma música que fazia sucesso quando nascemos? Quem o escolheu? Os pais? Algum familiar querido? Quando? Logo que o bebê chegou em casa? Ou logo quando surgiu a notícia de que ele faria parte da família?

Investigar essas questões com as crianças é um dos trabalhos possíveis já na Educação Infantil. De acordo com Karina Rizek, consultora da Avante Educação e Mobilização Social, o nome próprio tem a ver com a identidade de cada um e é carregado de significados. É o termo que mais escutamos desde que nascemos e se torna uma palavra segura e estável para a criança, pois o jeito de escrevê-lo não muda ao longo do tempo. “Seu uso é muito maior do que a alfabetização. Pode e deve começar antes dessa fase”, diz Karina. Como fazer isso? 

O poder da palavra e da imagem na creche

Antes dos 4 anos, é possível começar a ter com os bebês e as crianças bem pequenas conversas focadas nas questões de identidade e autonomia. Confira três focos importantes para considerar no planejamento: 

1. Meu nome, minha história

O que revelam os nomes da turma? Como o nome marca a identidade de cada um? O que as crianças sabem sobre o nome que têm? Ao fazer esse levantamento com a ajuda da família - no primeiro parágrafo, apresentamos sugestões de perguntas – e organizando momentos para que cada criança conte sua história para o grupo, a escola explora o início da construção da identidade de cada um, o reconhecimento de si e do outro. 

2. Minha foto, minhas coisas e meu nome

Levar em conta que os pequenos ainda não sabem ler nem escrever e que este não é o momento de investir nisso, é fundamental para trabalhar bem usando foto e nome de cada um. Esse tipo de material é útil para identificar o cabide em que cada um deve pendurar a mochila e o agasalho, por exemplo. E pode ser usado na roda de abertura do dia, para que as crianças separem os cartões com nomes entre presentes e faltantes, ou durante momentos de cantorias e brincadeiras como A Canoa Virou. Diante de possibilidades como essas, as crianças passam a demonstrar curiosidade pela cultura escrita e querem registrar o nome em seus pertences. “E podem fazê-lo, de modo espontâneo, sem foco em coordenação motora ou treinos repetitivos. A ideia é interagir e brincar”, explica Silvia Fuertes, coordenadora pedagógica da Comunidade Educativa Cedac e formadora de cursos na plataforma CEDAC Virtual. Está na BNCC, na descrição do campo de experiência Escuta, fala, pensamento e imaginação: “Na Educação Infantil, a imersão na cultura escrita deve partir do que as crianças conhecem e das curiosidades que deixam transparecer”.

3. Os nomes dos colegas 

Reconhecer o outro é uma das habilidades que precisa ser contemplada desde a creche. Por isso, ter contato com os nomes dos colegas – seja oralmente, seja por escrito – é essencial no planejamento. Isso envolve, por exemplo, o sorteio do ajudante do dia ou a ajuda para cada criança encontrar seu copo de beber água em meio aos objetos com os nomes dos demais. Vale ainda pensar sobre como é significativo evitar chamar todas as crianças do mesmo jeito – por exemplo “bebê” ou “pequenino” –, ou ainda referir-se a elas sempre no coletivo, como “Grupo 3, vamos fazer a roda”. Lançar mão do nome próprio é o ideal, inclusive em situações que envolvem os bebês, como o momento da troca de fralda ou da alimentação. “O nome marca quem cada um é”, reforça Silvia. Também é interessante valorizar o uso de espelhos – em sala ou no parque – para que todos possam se observar e observar os outros, conhecer, reconhecer e explorar o próprio corpo e rosto.  

Na pré-escola, o nome e o sistema de escrita

Crianças de 4 e 5 anos já podem ser desafiadas a trabalhar de modo mais direto com a escrita e a leitura envolvendo seu próprio nome e o dos colegas. O foco passa a ser entender como a língua escrita se estrutura, ainda que o nome próprio seja, na essência, um elemento de identidade. “Ele pode ser usado como um recurso para apropriação do sistema de escrita”, afirma Karina. Veja algumas sugestões para o planejamento: 

1. Use o cartão como referência

Como é hora de estimular as crianças a levantarem hipóteses realizando registros – elas geralmente se arriscam a escrever o próprio nome e o nome dos colegas –, os cartões com o nome são valiosos na pré-escola. Eles revelam uma palavra estável, contribuindo para que os pequenos pensem sobre como a escrita funciona: o tamanho que os nomes têm, a variedade, a posição e a ordem das letras etc. “O papel da escola é justamente fazer as crianças se depararem com essas questões e encontrarem saídas para resolvê-las, permitindo que busquem apoio nos cartões para escrever”, diz Silvia. 

2. Aproveite o que a turma já sabe

A turma certamente já tem uma lista de livros dos quais mais gosta e reconhece o título de cada um na capa. Considerar o que as crianças já sabem ler mesmo sem saber ler convencionalmente é prato cheio para ajudá-las a criar relações com a lista de nomes da turma e inferir semelhanças e diferenças. “Como o título do livro Chapeuzinho Vermelho pode nos ajudar a achar o nome da VERIDIANA na lista?” e “Que nomes nos ajudam a encontrar o livro Cinderela?”, são perguntas possíveis de ser feitas. 

3. Estimule o acesso à cultura escrita

Letras móveis e portadores de textos como jornais e revistas impressos e teclado de computador são materiais bacanas para fazer as crianças acessarem o mundo da cultura escrita, inclusive com brincadeiras como escritório, escola e registro de lista de compras. “Não importa, nesse momento, o que elas escrevem, e sim, o desejo de escrever, a intenção, as ideias que surgem baseadas ou não na proposta apresentada para a turma”, diz Claúdia Alves de Souza, professora do CEI Maria Odete de Souza Motta, em Campinas (SP). Confira sugestões práticas de atividades para trabalhar com o nome próprio no ensino remoto e no presencial.

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