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Língua Portuguesa: como avaliar as turmas do 1º ao 2º ano

Conheça estratégias de avaliação para crianças em processo de alfabetização e confira um exemplo prático sugerido por Mazé Nóbrega

A avaliação deve ser planejada antes de iniciar o trabalho com as turmas. Ilustração: Nathalia Takeyama/Nova Escola

Como avaliar o que as crianças do 1º e do 2º  aprenderam em Língua Portuguesa no período de afastamento da escola e das aulas remotas? Embora ninguém tenha certeza de quando isso acontecerá - pode ser daqui alguns meses, no ano que vem ou só quando a vacina contra a covid-19 chegar - este diagnóstico é parte essencial do planejamento dos professores. Sem dúvidas o momento é bem delicado e exigirá muita atenção, em especial porque as crianças estão em fase de alfabetização. 

Para te ajudar a avaliar as turmas dos primeiros anos dos Fundamental 1, conversamos com Mazé Nóbrega, professora de pós-graduação do Instituto Vera Cruz, em São Paulo (SP), e consultora dos conteúdos de Língua Portuguesa desta caixa. 

“É importante não esquecer que a avaliação é algo que se planeja antes do trabalho”, ressalta Mazé. Esse cuidado evita ficar à deriva entre uma atividade e outra, além de antecipar quais são os protocolos de registro de observação, instrumentos para proceder a uma avaliação processual, partindo do diagnóstico dos saberes iniciais dos estudantes. “Desse modo, o professor pode construir uma representação do que cada criança avançou em relação ao que sabia e também como se encontra em relação aos demais colegas da turma”, diz a consultora.

Para começar, ela aconselha que o professor responda para si mesmo as perguntas: O que observar para recolher pistas de que as crianças estão avançando? Que atividades podem fornecer bons indicadores de aprendizagem? Como crianças com diferentes hipóteses sobre o sistema de escrita podem responder a essas atividades?

Além disso, ao traçar estratégias de avaliação é crucial não perder de vista a habilidade que se quer desenvolver e o que se espera que as crianças compreendam, tendo em vista a hipótese de escrita em que se encontram.

Em relação à alfabetização, é importante que o professor tenha nítido o porquê de ensinar, por exemplo, sílabas às crianças. Essa resposta orientará as intervenções e observações durante as atividades: “Uma possível resposta pode ser que, quando falamos, pronunciamos sílabas e não sons separados. Assim, a unidade sílaba pode facilitar a compreensão de que a escrita representa a fala, e de que há diferentes estruturas silábica além da mais comum – CV (consoante + vogal), orientando a produção de escritas de acordo com as convenções”, explica Mazé. 

Por fim, saber qual o nível de compreensão da escrita de cada um de seus alunos também ajuda a obter diferentes indícios de aprendizagem com base nas atividades. 

Língua Portuguesa: dicas para avaliar no 1º e no 2º ano 

1. A avaliação deve ser planejada antes de iniciar o trabalho com as turmas. Isso ajuda a programar as atividades e antecipar os protocolos para registrar as observações de maneira adequada.

2. Na hora de desenvolver a avaliação, pergunte-se: O que devo observar? Quais atividades oferecem bons indicadores da aprendizagem? Como crianças com diferentes hipóteses sobre o sistema de escrita podem responder às atividades?

3. Mapear o nível de compreensão da escrita de cada aluno também é essencial. Confira abaixo alguns exemplos para localizar o nível de compreensão da escrita de seus alunos: 

- As crianças segmentam as palavras oralmente para o professor grafar, mas ainda não se deram conta de que a escrita representa a fala: são pré-silábicas;
- As crianças segmentam as palavras oralmente para o professor grafar, mas produzem uma escrita silábica, isto é, uma letra para cada sílaba e não para um fonema;
- As crianças segmentam as palavras oralmente para o professor grafar, mas como produzem escritas silábico-alfabéticas ou alfabéticas iniciais têm problemas para compreender que podem existir diferentes estruturas silábicas, por exemplo, várias sílabas contêm mais letras do que os sons que pronunciamos: na representação da nasalidade, em algumas palavras, escrevemos as letras N ou M sem que elas correspondam a algum som (ca-ran-gue-jo); nos dígrafos, usamos duas letras para representar um único som (ca-ran-gue-jo).

Mas como essas dicas podem funcionar na prática? NOVA ESCOLA pediu para Mazé propor uma estratégia de avaliação para a Sugestão de Atividade: Trabalhe o conceito de sílaba com as crianças, publicada na caixa de Língua Portuguesa desta Série Especial. A ideia é que o passo a passo a seguir seja um exemplo para você construir a sua própria estratégia, já que, em avaliação - e em Educação, de forma geral - é preciso considerar a realidade da sua turma.

EXEMPLO DE AVALIAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA 

Uma estratégia para descobrir o que os alunos aprenderam com uma atividade sobre sílabas


Indicado para: Turmas de 1º e 2º ano

Atividade avaliada: Sugestão de Atividade: Trabalhe o conceito de sílaba com as crianças, publicada nesta série especial


PASSO A PASSO

1. Observe o uso das sílabas:
Nessa etapa, as crianças operam com outra unidade linguística – a palavra. Fique atento ao fato de que seu objetivo é a sílaba. Assim, observe se as crianças fazem uso das sílabas como estratégia para localizar a palavra.

PONTO DE ATENÇÃO:
O risco aqui é se deixar levar pela atividade e acabar se desviando da habilidade que se quer desenvolver. Por isso, é importante ter foco. 

2. Associe as sílabas das palavras com os nomes das crianças:
Os nomes próprios funcionam como palavras estáveis, isto é, palavras de base, que servem de consulta para as crianças, podendo subsidiar a construção da língua escrita para alunos em processo de alfabetização.

PONTO DE ATENÇÃO:
Ao associá-los a palavras novas que integram o repertório das cantigas de roda, mais uma vez, é importante não perder o foco do que se quer que as crianças aprendam. Por exemplo, se a criança diz que PEIXE começa com o PE de PEDRO, que indícios se tem de que a criança se refere à sílaba, ao fonema ou à letra? Há aqui outra questão: fala-se [pexe], mas se escreve “peixe”: há na escrita letras que não correspondem a sons da fala.

3. Preste atenção à montagem das palavras:
Na hora do quebra-cabeça, enquanto as crianças montam as palavras, a professora pode observar as tentativas que fazem para decifrar cada “pedacinho” e aplicá-lo em uma unidade complexa que é a palavra.

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