4º e 5º ano: 4 pontos para superar a defasagem dos alunos e planejar as aulas de Matemática na volta às escolas
Nesse ciclo, o apoio de outros componentes curriculares, como a Língua Portuguesa, o uso de jogos e a atenção especial a conteúdos como números racionais, decimais e frações, são bons caminhos
A pandemia de covid-19 acentuou uma velha preocupação dos professores: a defasagem dos estudantes. Antes mesmo da grave crise de saúde que vivemos, muitos alunos já chegavam a determinado ano do ensino sem assimilar as aprendizagens que eram esperadas em ciclos anteriores.
O que já era um dilema entra agora, com a volta parcial ou total das aulas nas escolas, como parte do planejamento dessa retomada. Como falar de reta numérica se o aluno não sabe as características do sistema de numeração decimal? Ou falar de algoritmo da divisão, sem compreender bem as ideias da operação de dividir? E, pior, como falar com toda uma turma se nem todos estavam inteiramente envolvidos nas atividades durante esse período em casa?
É possível, aponta Fernando Barnabé, integrante do Time de Autores e do Time de Formadores de NOVA ESCOLA, que todos os alunos, em algum grau, apresentem tombos de aprendizagem, ou que mesmo uma turma toda esteja atrasada.
No caso específico dos alunos de 4º e de 5º ano do Ensino Fundamental, eles podem ser tão atingidos quanto os mais novos. Às vezes até mais. É nessa fase que eles fazem a relação entre os diferentes componentes curriculares, como Ciências, Matemática e História, e isso não é feito sem a ajuda dos gêneros textuais. Se um aluno não estiver com determinadas etapas da alfabetização concluídas, pode ter dificuldades para desenvolver aprendizagens em Matemática, por exemplo.
Pensando nisso, elencamos alguns pontos de atenção para você, professor, planejar suas aulas para o 4º e o 5º ano.
Mapeamento de possíveis defasagens
Só será possível saber se o atraso é de um, de dois ou de todos os alunos se o professor conseguir organizar todo o trabalho que foi feito até a retomada das aulas presenciais. Mais do que atividades e conteúdos, é importante saber quais habilidades apontadas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) foram aplicadas, quais foram atingidas e quais alunos estão aquém do previsto pelo documento.
Rubricas e fichas de registro são uma ótima forma de organizar esse mapeamento, afirma Fernando. Ele indica usar as planilhas elaboradas pela professora Kátia Chiaradia, que trazem um detalhamento das aprendizagens a serem trabalhadas e permitem ao professor avaliar como está o desenvolvimento de seus alunos (acesse o material de Matemática aqui e confira abaixo um vídeo explicando como utilizá-lo). As habilidades não trabalhadas devem receber atenção especial neste momento.
Já na hora de definir as rubricas de avaliação, Fernando afirma que as melhores são aquelas em que o professor elabora conforme a realidade da sua sala de aula (saiba mais sobre modelos de rubrica aqui).
Investindo nos registros para identificar defasagens
Com o processo de alfabetização mais avançado em relação ao começo dos três primeiros anos do Ensino Fundamental, os alunos já podem começar a fazer no 4º e no 5º ano o diálogo entre as diferentes áreas. Isso significa uma ajuda importante para o professor em Matemática, que pode agora usar os variados gêneros textuais como atividade para que o aluno possa desenvolver aprendizagens em Matemática.
Se um aluno entrar no 4º ano com uma alfabetização incompleta, esse processo estará comprometido. E nem sempre será de imediato que o professor verá em que pé está a leitura e a escrita da turma. “Os alunos, no entanto, deixam pistas. Às vezes é uma dificuldade em fazer a letra cursiva, por exemplo. Quanto mais registros eles produzirem, mais fácil será decidir qual caminho a gente vai querer trilhar nesta retomada”, afirma Fernando.
Avaliação de conteúdos, como números racionais, decimais e frações
No 4º e 5º ano começam os trabalhos com números racionais, frações, números decimais, e esses conteúdos são bem mais delicados de explorar no ensino remoto.
“Uma atenção especial do professor em relação a esses conteúdos vai ser bem importante. Será preciso fazer uma avaliação cuidadosa se o aluno realmente entendeu o que é um número racional, se ele realmente sabe trabalhar com a resolução de problemas de frações, se ele consegue identificar a relação entre o sistema monetário e os números decimais. Ou seja, que centavos é uma representação de uma parte do decimal do real. Se ele consegue estabelecer essas relações.”
Na mesma linha, Fernando indica olhar também para o que esses alunos entendem de sequências e padrões, de forma a avançar um pouco mais no campo da álgebra, outro tema importante indicado pela BNCC para esse ciclo. A mesma coisa vale para o trabalho com operações inversas, que faz parte dos conceitos algébricos.
Truques para sair da mesmice
Se as primeiras semanas serão dedicadas ao diagnóstico dos alunos, fica o desafio de fazer a escolha das atividades, presumindo não só a defasagem, mas a ansiedade dos estudantes, e outras questões que muitas vezes são de ordem emocional.
Para isso, estratégias mais usuais, como atividades focadas apenas na resolução de problemas matemáticos tradicionais, não terão um bom efeito. O uso de jogos pode quebrar a mesmice, defende Fernando. “Eles ainda não podem se abraçar, mas podem usar tabuleiros e cartas com perguntas e respostas, que favorecem o coletivo e a atenção com o outro.”
Isso ajudará ainda a minimizar a dispersão dos alunos. “Eles passaram muito tempo em frente às telas. Alguns se acostumaram, mas outros não. Agora é hora de mostrar que a tecnologia tem um outro papel”, completa Fernando.
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