Para repensar a prática

Como enxergar a Matemática nossa de todo dia

Confira 3 dicas para ajustar o olhar e identificar as oportunidades de trabalhar conteúdos curriculares a partir de contextos reais

Aluno da professora Aparecida Alcântara Bastos cria desenho com formas geométricas nas aulas de Arte. Foto: Felipe Portella

A Matemática está presente no cotidiano até mesmo quando não é evidente. Quando Fabio Menezes, professor de Pedagogia e Licenciatura em Matemática da Faculdade de Formação de Professores na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), conheceu as professoras Michele Barabani e Aline da Silva, da CIEP Poeta Fernando Pessoa, no Rio de Janeiro, elas tinham um projeto de revitalizar o jardim da escola com as turmas de 1º ano. 

Ele as ajudou a enxergarem as possibilidades de ensinar conteúdos matemáticos durante as atividades de medir a distância entre uma muda e outra, e estimar a água necessária para regar as plantas, entre outras. “Elas já faziam Matemática. Eu só mostrei a intencionalidade que elas poderiam dar à sua prática”, afirma. 

Aparecida Alcântara Bastos, professora do 5º  ano da EE Alfredo Paulino, em São Paulo (SP), acredita que mudar a forma de ver a disciplina é essencial para que as crianças passem a enxergá-la como algo comum - e não um bicho de sete cabeças. “Eles percebem que a Matemática não é para a escola, mas para a vida. A avaliação é apenas a parte escrita daquilo, mas a Matemática está presente todo hora", diz a docente. 

Para Fabio, só se faz Matemática ao experimentá-la. E para ajudar você a colocar essa premissa em prática, reunimos três dicas do que é preciso ter em mente para fazer esse movimento de enxergar esses conteúdos curriculares no cotidiano. 

1. Transformar a prática em uma eterna investigação
É importante manter um olhar curioso e uma postura investigativa. Questionar-se e rever a prática constantemente, pensar nos motivos que justificam ensinar determinado conteúdo e quais relações ele pode ter com a realidade da turma. A professora Maria Theresa Bologna, da EE Alfredo Paulino, conta que, com o tempo, esse olhar se torna natural, quase automático. “A minha vida também é baseada nisso. O olhar se torna mais perspicaz, passei a enxergar além e melhor”, afirma. 

2. Questione-se se o conteúdo faz sentido para seu aluno
É claro que há conteúdos matemáticos que são abstratos e dificilmente vão se relacionar com algo concreto - e esses conteúdos também têm lugar na escola. Mas, quando for possível, contextualize e torne o conteúdo aplicável - especialmente no Ensino Fundamental 1, quando a concretude é ainda mais necessária, porque as crianças ainda estão desenvolvendo a capacidade de abstração. 

Fernando Barnabé, formador de professores e diretor da Edu.co Ensino Consultoria e da rede Trilhas do Saber, em Curitiba (PR), sugere que, ao trabalhar com grandezas e medidas, o professor reflita se realmente faz sentido apresentar uma unidade de medida para o seu aluno. Trabalhar uma unidade pouco utilizada, como o decâmetro (1 decâmetro equivale a 10 metros) ou o nanômetro (tão pequeno que em 1 milímetro cabem 1 milhão de nanômetros), não é útil nessa fase. 

3. Ouça seus alunos
Pode parecer clichê, mas Fabio Menezes reforça a importância de atender a curiosidades dos alunos, independente de ela se encaixar nos conteúdos previstos para aquele ano ou não. “A curiosidade de um aluno não escolhe hora para aparecer”, afirma. Não se trata de adiantar conteúdos ou pular etapas, mas de atender às necessidades das crianças e de engajá-las na aula, pensando em como dialogar com elas a partir do currículo daquele momento. 

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