Língua Estrangeira: 5 respostas para replanejar 2020 nas aulas de Inglês
Quais conteúdos priorizar, estratégias para o engajamento dos estudantes e por onde começar a preparação para uma eventual volta às aulas
A situação causada pela pandemia de covid-19 traz desafios inéditos para a Educação, como a prioridade comum de adaptar o que estava planejado para o início do ano e escolher os conteúdos essenciais em cada componente curricular. Dirigida para os professores de Língua Estrangeira - Inglês que atuam no Ensino Fundamental 2, esta caixa procura ajudar no trabalho de replanejamento do que estava previsto para 2020.
Para ajudar os professores nessa importante tarefa, conversamos com Nathália Gasparini, mestra em Estudos da Linguagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), professora do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul - Campus Restinga e membro do Time de Autores de NOVA ESCOLA. Além de Nathália, consultora responsável pelos conteúdos apresentados nesta caixa, entrevistamos Celina Fernandes, mestre em Sociologia da Educação pela USP e diplomada pela Universidade de Oxford, e Laura Nassar, coordenadora pedagógica do Colégio Oswald de Andrade com mestrado em Línguas Modernas pela USP.
Elas explicam como fazer o replanejamento de 2020, que conteúdos devem ser priorizados, estratégias para manter o engajamento dos estudantes e por onde começar a preparação para uma eventual volta às aulas presenciais. Confira a seguir:
1) Por onde começar o replanejamento para as aulas de Língua Estrangeira - Inglês para as turmas do 6º ao 9º ano?
Para Laura Nassar, o desafio é ter intencionalidade no replanejamento. O professor precisa ter claro qual é o perfil da turma e decidir a sequência que será produzida, precisando olhar sempre para os currículos de cada ano do Fundamental.
Para Celina Fernandes, o professor precisa repensar o planejamento anterior. Os eixos da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para Língua Estrangeira oferecem uma boa base para uma prática pedagógica adequada. Alguns conteúdos facilitam a vida do professor, explica Celina: "Se pensar em produção oral e escrita, você terá uma condição muito maior de observar o que o aluno pode efetivamente fazer", defende. Já a leitura e compreensão oral dos alunos são mais difíceis de observar: “Teríamos de estar mais próximos dos alunos para acompanhar os sentidos que eles atribuem ao que ouvem e leem". O ensino remoto, de forma geral, também não oferece o feedback em tempo real que o presencial possibilita.
O contexto dos alunos é outro condicionante do que será possível lecionar: os recursos disponíveis têm papel central na definição dos conteúdos e estratégias. "Se há recursos, dá para trabalhar com vídeos e materiais de diferentes gêneros. Por exemplo, TikTok e podcasts, mas sempre levando em consideração o tempo para realizar tarefas", explica Nathália.Nos casos em que não há possibilidade de interlocução real com os estudantes, o trabalho do professor torna-se mais complexo, mas é possível apontar caminhos, como o foco na produção off-line de leitura e escrita.
2) Nas aulas de Inglês a distância, que tipo de atividade é mais adequada para ser desenvolvida com os alunos?
Quando há condição de trabalhar remotamente, a oportunidade é exercitar as práticas de oralidade, explica Nathália. "Para os professores que conseguem fazer encontros síncronos, é possível trabalhar alguns procedimentos de leitura", acredita.
Seja qual for a ferramenta usada, crê Natália, o processo deve sempre estar em foco. "O aluno precisa tomar para si o fazer neste contexto. A sala de aula dá margem para uma postura de ouvinte, mas no remoto não basta assistir à aula. É preciso realizar as atividades, que são o processo." Para Celina, o professor precisa se desapegar de ter 100% de controle para garantir que os estudantes tenham chance de participar. "Não podemos abrir mão da participação e de utilizar as Metodologias Ativas”, diz, elencando algumas possibilidades como o trabalho em grupo.
3) Como manter o contato com as turmas a distância?
De acordo com as experiências que já teve, Laura afirma que manter uma dinâmica de “bate-bola”, em que o aluno faz tarefas e devolve ao professor, funciona, mas as tarefas precisam ser divididas em etapas. "O aluno precisa desse feedback", diz. "Para as escolas que têm essa possibilidade, é possível lançar mão de atividades diversas: plantão de dúvidas síncrono, aulas de vídeo gravadas, explicar tarefas em áudio etc."
Segundo Nathália, a interação na aula de Inglês é essencial. "Proporcionar a sensação da experiência de interação da maneira que for possível agora é importante para engajar os alunos." Outra maneira de manter os alunos interessados é incentivar o uso de fóruns, como Moodle ou o WhatsApp. Celina recomenda também investir em metodologias que permitam que os alunos produzam algo. Esse objeto, acredita ela, é o que vai gerar a reflexão nos estudantes.
4) Como posso avaliar o aprendizado dos meus alunos nas aulas de Inglês remotamente ao longo da quarentena?
É preciso ter consciência do que se pretende avaliar e focar no processo de aprendizagem do aluno, e não só nos produtos finais. "As tradicionais provas podem ser utilizadas, claro, mas é necessário ser transparente a respeito do que se espera dos estudantes. Quanto mais o professor puder devolver com critérios claros, com comentários, melhor. É imprescindível ter uma formalização e uma devolutiva, um feedback, para os alunos”, diz Laura.
O feedback também ajuda o professor a entender as dúvidas e dificuldades dos alunos, oferecendo ainda a oportunidade de repensar o foco e o escopo das atividades de acordo com as etapas do processo. Para Nathália, o professor deve, inclusive, incentivar a autoavaliação, isto é, o aluno avaliar a própria produção e o processo de aprendizagem.
5) Como posso começar a me preparar e planejar uma eventual volta às aulas?
Diante das incertezas quanto ao futuro, o professor precisa começar a se preparar desde já e prever mais de um cenário. Por exemplo, uma volta híbrida, com algumas atividades presenciais e outras remotas. "Por isso, é preciso ter claro o que vai ficar no presencial e o que vai ficar no remoto", acredita Laura, recomendando uma avaliação cuidadosa de como separar as atividades necessárias.
Nathália aponta ainda outro aspecto importante dessa volta: as habilidades socioemocionais. "Acho interessante pensar em como o Inglês pode ajudar nessa reorganização", diz. Ela acredita que o ensino do idioma pode "lidar com as questões da pandemia em aula", umas vez que o Inglês é atualmente uma das línguas mais utilizadas nas divulgações e pesquisas científicas.
"Muitas informações sobre o coronavírus, por exemplo, chegam primeiro em Inglês. Isso pode ajudar a reorganizar a volta às aulas. As linguagens têm essa vantagem, a gente pode tratar de várias temáticas”, afirma.
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