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Folclore: como aproveitar a tecnologia para turbinar as discussões com as turmas

Do cordel como slam ao WhatsApp, a tradição oral do folclore encontra diversas possibilidades em áudio e vídeo

Aproveite o WhatsApp ou o TikTok para ressignificar o folclore. Ilustração: Ana Carolina Oda/Nova Escola

Quando você pensa em folclore, o que lhe vem à cabeça? Quais lembranças você guarda sobre esse tema, aprendidas ao longo da vida escolar? Será que aparecem Saci-Pererê, Mula Sem Cabeça, Boitatá, Lobisomem, Caipora, Curupira? Quando pensa em canções do folclore que aprendeu na escola, quais vêm à mente? O Cravo e a Rosa, Marcha Soldado, Se Essa Rua Fosse Minha, Escravos de Jó? 

Então, vamos lá. A primeira sugestão para começar a trabalhar o tema com as turmas do 6º ao 9º ano é: converse com a classe sobre memória. Se folclore é o mesmo que cultura popular, por que será que na escola, em geral, os estudos se restringem a esse repertório manjado? A educadora musical Roseli Novak explica que o Brasil tem uma diversidade e riqueza cultural que vão além. “A palavra folclore, apesar de significar cultura popular, acaba por levar a referências mais limitantes do que a cultura popular realmente abrange.”

E o que a cultura popular brasileira tem de rica em manifestações, os novos gêneros digitais têm em possibilidades para expressar e reelaborar esses mitos, festejos, rituais e danças. E não precisa ir muito longe, não. As ferramentas do dia a dia dão conta. 

Vamos todos cirandar (na web) 

A música está diretamente ligada às danças, ao jogo, e muitas vezes as linguagens artísticas são inseparáveis, porque elas formam um todo em sentido e significado. Com a música é possível trabalhar diversas características do folclore; da narrativa à dança passando pelas brincadeiras. Mais divertido não pode ser. 

Sugestões de repertório: Maracatu, Boi, Caboclinho, Samba de Roda, Ciranda, Coco, Cavalo Marinho, Marujada, Reisado, Frevo, Cavalhada, Capoeira, Festa do Divino, Jongo, Catira, Congada, Carnaval, Batuque, Samba de Lenço, Folia de Reis, Tambor de Crioula. 

Os alunos podem ser incentivados a fazer a pesquisa, discuti-la na aula e depois montar a dança em programas de microedição que estejam familiarizados, como o TikTok. A atividade é boa para ser feita em grupos de 3 a 6 alunos, e eles devem estar atentos às roupas, luz, imagens escolhidas para o fundo e a música, entre outros. 

Quem conta um conto aumenta um ponto

Proponha uma espécie de brincadeira de telefone sem fio pelo WhatsApp. Um aluno lê em voz alta um conto popular ou lenda, de preferência algo curto. Ele pode gravar e enviar a um colega. Este deve ouvir só uma vez e recontar o conto conforme se lembre. E enviar a gravação a outro colega. Digamos que isso aconteça por cinco ou seis vezes. O último a ouvir deve registrar essa última versão. No fim, todos a comparam com a versão original. 

“Em terra de cego, dá bom dia a cavalo...” Ham? 

Os provérbios, ditados ou ditos populares despertam reflexões filosóficas nem sempre óbvias, por isso são adequados aos alunos do Fundamental II. Em geral, os provérbios têm uma natureza dual e podem ser divididos em duas partes. 

“A sugestão é o professor enviar por escrito ou oralmente uma lista de primeiras partes, depois, uma lista de segundas partes, não em ordem de correspondência. O desafio aos alunos é encaixar as metades. A pista pode ser uma rima, ou uma repetição. Mas só o contexto dará a resposta final”, sugere a contadora de histórias e autora de literatura infantil Rosane Pamplona. 

Esse encaixe das partes dos provérbios pode ser feito no Padlet, que funciona bem como mural. Por fim, sugira que os alunos proponham, para alguns desses ditados, uma situação da atualidade em que os ditos se encaixem como “moral da história” ou reflexão filosófica.

Sugestão de repertório: 

Quem com ferro fere,                       Quem não tem cão

Favor recebido,                                Quem desdenha

Pedra que rola                                 A boa vontade

Quem economiza na ferradura,         Em terreiro de galinha,

O melhor osso                                 Quando a esmola é demais,

Quem senta na garupa                    Quem compra o que quer

Em terra de cego,                            Quem fala o que quer,

Em rio que tem piranha,                  Bocado engolido,

favor esquecido.                             minhoca não tem razão.

faz do longe perto.                          perde no cavalo.

o santo desconfia.                           não cria limo.                             

jacaré nada de costas                     é para o pior cachorro.

não segura na rédea.                     dá bom dia a cavalo.

quer comprar.                                ouve o que não quer.        

sabor perdido.                               com ferro será ferido.      

caça com gato.                              quem tem um olho é rei.

Eu vou contar uma história!

O cordel é uma das mais importantes formas de literatura popular no Brasil. Os textos, por serem estruturados de forma rimada a partir de relatos orais, se aproximam de outros gêneros comuns entre os jovens, como os repentes, quadrinhas, slam e o martelo. Peça que eles transformem uma narrativa oral ou uma notícia de jornal em um cordel, como ainda fazem hoje os artistas de rua nordestinos. 

Depois, promova as batalhas de versos nos diferentes formatos já citados. A partir dessas performances, é possível evoluir para outros, como as batalhas a moda dos cantadores viajantes, entre personagens famosos e seres fantásticos. Sugestão de repertório: o desafio entre o Diabo e o Coronavírus. A batalhas podem ocorrer nos encontros síncronos nas plataformas de áudio e vídeo ao vivo.

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