Da lousa para o YouTube: como um professor ressignificou a aula expositiva na quarentena
Guilherme de Fraga levou para a plataforma de vídeo suas aulas de História e Geografia. Assim, manteve o planejamento em dia e garantiu estudo para alunos com pouco acesso à internet
As aulas de História e de Geografia das turmas do 6º ao 9º ano da EMEF Theodoro Bogen, em Canoas (RS), sempre foram recheadas de imagens, memes e interação. A pandemia, que afastou professores e alunos do convívio diário, trouxe o desafio: como levar para as telas a qualidade das aulas, contornando as dificuldades de acesso à internet e mantendo o conteúdo em dia?
Para o professor Guilherme Barboza de Fraga, a saída foi virar youtuber. “Tinha dificuldade em lidar com a ideia de aparecer no vídeo, mas percebi que seria complicado para as turmas entenderem temas complexos apenas com a leitura”, conta Guilherme, que viu nas videoaulas uma possibilidade de manter a qualidade do ensino e o vínculo com os estudantes.
Em seu canal no YouTube, Guilherme oferece gravações sobre os conteúdos que seriam dados em sala. Ele também aborda, nos vídeos, a correção das atividades propostas aos alunos. Nelas, o professor vai comentando cada questão do livro didático, dando as respostas esperadas para os alunos e oferecendo informações adicionais. Veja um exemplo desse material:
As aulas síncronas – isto é, os encontros da turma em aplicativos de videochamada – ficam reservadas para a interação, com a solução das dúvidas e avaliações. “No início, tentei fazer tudo no Google Meet, mas não foi tão proveitoso. O acesso à internet é um problema para alguns alunos da nossa escola”, explica.
Nos primeiros vídeos, Guilherme fazia a correção das atividades enviadas e disponibilizava as gravações no Google Drive. Mas os alunos continuavam com dificuldades de acessar os links por causa da limitação da oferta de internet. Publicar o material no YouTube foi uma maneira de facilitar o acesso e organizar as postagens, separando-as em playlists por ano e por tema.
Salvos na plataforma, os vídeos podem ser assistidos a qualquer momento, de acordo com a disponibilidade de internet. “Não houve muito tempo para pensar estratégias, mas com o passar dos meses fui observando o trabalho de outros colegas e outros canais do YouTube para me inspirar e deixar as videoaulas mais dinâmicas e agradáveis”, conta Guilherme.
O professor tenta, ao máximo, levar para a tela o que apresentaria na aula presencial, mas de forma mais leve e concisa. “Procurei ressignificar as aulas expositivas no vídeo. Busco sempre trazer o conteúdo de uma forma mais divertida, mais animada, com memes, imagens. Assim, o aluno tem uma aula leve, mas que oferece bastante conhecimento histórico.”
Veja, por exemplo, como Guilherme deu uma aula sobre a peste bubônica, que assolou a Europa no século 14. Além de apresentar obras de arte com documentos históricos, o docente faz uma síntese do que foi exposto ao final da aula usando memes hilários (a partir de 14:24):
Para manter um contato mais direto com os alunos, Guilherme optou pelas lives. “É quando os alunos podem interagir comigo e com outros professores convidados, podem matar a saudade ao vivo e ainda acompanhar a aula”, conta. A opção pelas lives também tem uma justificativa: quem pode assistir ao vivo ganha a interação, mas quem não pode tem o material disponível no YouTube para acessar em outro momento, sem perder o conteúdo.
Interação, quiz e chat
E como saber se os alunos estão acompanhando os vídeos, mantendo o ritmo e a qualidade da aprendizagem? A solução de Guilherme é agendar uma aula síncrona com os alunos ao final de cada conteúdo, o que tem acontecido uma vez por mês. É a hora de os quizzes entrarem em cena. “Faço um jogo de perguntas e respostas relacionadas com aquele assunto, os alunos se preparam assistindo aos vídeos”, explica Guilherme, que também vê nessas ocasiões outra maneira de interagir com os alunos, que enviam as respostas pelo chat. “Ver as respostas do aluno é uma maneira de acompanhar o aprendizado. Ao mesmo tempo, é uma brincadeira, porque eles se divertem bastante.”
A aula síncrona também é o momento de resolver lacunas. A partir do desempenho dos alunos no quiz, Guilherme retoma tópicos e corrige eventuais erros de interpretação dos conceitos vistos nas videoaulas. “É o momento de perceber se os vídeos gravados deram certo ou não. Com base nisso, posso repensar a minha prática pedagógica”, reflete.
Guilherme não pretende abandonar as videoaulas, mesmo quando o ensino presencial for totalmente restabelecido. Com mais tempo em sala, ele terá menos disponibilidade para gravar seus vídeos, mas a ideia é de que esse formato possa ser usado principalmente para a revisão de tópicos das aulas.
O professor pretende, também, inserir os vídeos em desafios e gincanas com as turmas ou como modo de complementar conteúdos trabalhados em aula. Outra ideia é voltar o canal para estudos de temáticas que interessem aos estudantes, mas que não são trabalhadas no ensino regular.
Guilherme quer, principalmente, continuar se aperfeiçoando, aprendendo: anda pesquisando alternativas de programas e aplicativos para aperfeiçoar a edição de seus vídeos e espera comprar uma câmera para melhorar a qualidade das gravações.
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