O passo a passo para uma aula expositiva sobre escravidão e resistência no Brasil
Indicada para turmas do 8º ano, atividade trabalha com a análise de documentos históricos de escravizados que buscavam justiça no final do período colonial brasileiro
As aulas expositivas podem ser vistas como terreno seguro na hora da aprendizagem remota, mas é possível inovar e tornar a experiência mais dinâmica.
O professor Guilherme Barboza de Fraga, que leciona História para turmas do 6º ao 9º ano na EMEF Theodoro Bogen, em Canoas (RS), é o autor desta sugestão de atividade para o ensino remoto.
Seu objetivo é analisar diferentes modos de resistência de escravizados no fim do período colonial e Império brasileiro, tema fundamental nessa etapa escolar. Além disso, segundo o professor, como os estudantes já aprenderam sobre a escravidão no 7° ano, mesmo os professores que não conseguiram avançar no conteúdo do 8° ano por conta do no ensino remoto podem explorar o tema.
Caso a atividade seja aplicada em uma aula síncrona, ela pode ser utilizada em sua integralidade, sempre lembrando que é possível adaptá-la à sua realidade local, omitindo ou adicionando perguntas e fontes. Nesse caso, envie com antecedência para os alunos os documentos para facilitar o debate e o bom andamento da aula.
ATIVIDADE: RESISTÊNCIA DE ESCRAVIZADOS
Um passo a passo que mescla momentos expositivos e mão na massa para estudar petições e acordos por melhores condições de vida ou liberdade
Indicado para: Turmas do 8º ano
Materiais: Todo o material para a realização desta atividade está disponível aqui.
Na BNCC: EF08HI14
PASSO A PASSO
1. Apresente o objetivo da atividade para a turma: Você pode compartilhar a tela com os alunos e fazer uma leitura coletiva. O objetivo desta aula de História é analisar as diferentes formas de resistência encontradas por escravizados no Brasil no fim do período colonial e do Império brasileiro. Uma estratégia para resistir era enviar pedidos por escrito às autoridades (petições).
PONTO DE ATENÇÃO: É muito importante começar com a apresentação do objetivo para que os estudantes entendam a proposta e compreendam qual a expectativa de aprendizado. Isso vale para as aulas síncrona ou assíncrona.
A partir da ideia “Onde houve escravidão, houve resistência”, apresente o contexto que será estudado, utilizando também o trecho do livro de Laura de Mello e Souza sobre escravizados que buscam justiça.
“Muitas vezes os libertos eram reescravizados por engano ou má-fé. Então se desesperavam, dirigindo pedidos escritos às autoridades da capitania, descrevendo as péssimas condições em que viviam, clamando por uma justiça que tardava, e, não raro, falhava.”
Fonte: SOUZA, Laura de Mello e. Opulência e miséria nas Minas Gerais. (Tudo é História). São Paulo: Brasiliense, 1997. p. 62.
2. Divida a turma: Para a “problematização”, divida a turma em grupos menores para que cada equipe analise um dos documentos que apresentam um tipo de resistência à escravidão: proposta de acordo, testamento e requerimento individual e coletivo à Assembleia Constituinte (acesse os documentos aqui). Ao todo, são quatro documentos a serem analisados, que podem ser acessados clicando no documento abaixo. A discussão pode ocorrer no tempo da aula ou como atividade extra.
PONTO DE ATENÇÃO: Para que os alunos aprendam a interpretar fontes históricas, é importante que você não forneça a eles as informações básicas sobre a fonte histórica antes da leitura de cada uma delas. Não comece a aula com uma exposição sobre o contexto histórico desses documentos, pois isso os impediria de construírem o contexto com base nas fontes, que é o objetivo central da aula de História.
3. Comece a análise: Leia os trechos com a turma e peça que analisem a manifestação do deputado da Assembleia Constituinte Costa Aguiar e a decisão final do imperador dom Pedro I, ressaltando que essas eram algumas possibilidades de respostas aos requerimentos naquele momento histórico - logo após a Independência do Brasil e na ausência de uma Constituição.
4. Proponha a produção: Em seguida, solicite aos alunos que discutam e elaborem, em grupos, possíveis respostas para o requerimento de Maria Joaquina, para o Tratado de Paz proposto pelos trabalhadores do engenho e para o requerimento coletivo de Inácio Rodrigues e outros escravizados. Quanto ao Testamento, proponha ao grupo uma reflexão sobre sua viabilidade.
PONTO DE ATENÇÃO: É possível dialogar com toda a turma sobre quais seriam as possibilidades de resposta a cada um dos documentos ou selecionar duas das fontes apresentadas para serem trabalhadas nessa etapa. Há, ainda, a possibilidade de deixar como tarefa a ser concluída em grupos pelos estudantes e seguir com o debate em outra aula.
É importante lembrar os alunos da necessidade de considerarem em suas decisões que o sistema escravista permaneceu vigente no Brasil até o ano de 1888 e que tais decisões são individuais, não eliminando a estrutura da escravidão - ou seja, não garantindo abolição da escravatura.
5. Conduza a sistematização: Após a produção em grupos menores, solicite que os alunos comentem o que foi discutido no grupo e qual a decisão em relação aos pedidos feitos pelos escravizados. Na aula síncrona, uma forma de torná-la mais dinâmica é fazer as interações no formato de quiz a ser aplicado durante a aula síncrona. As perguntas estão disponíveis neste link. Se você optar por enviar as perguntas como uma lista de questões a serem respondidas individualmente, verifique nas respostas se elas correspondem historicamente ao período colonial e imperial. É comum haver confusões entre as épocas.
Dicas para adaptar a Sugestão de Atividade para a aula assíncrona
- Sabemos que nem todos os alunos e escolas têm a possibilidade de trabalhar de maneira síncrona, isto é, com todos os estudantes conectados ao mesmo tempo assistindo às videoaulas e às explicações dos professores.
- No entanto, caso não seja possível desenvolver esse conteúdo na aula síncrona, a interação pode ser feita por meio do envio das propostas e materiais aos alunos. Você pode enviá-las com a ajuda do WhatsApp, criando um grupo com os alunos ou uma lista de transmissão, ou por e-mail ou com a ajuda de alguma plataforma que os estudantes possam acessar em outros momentos. Há escolas que também imprimem as atividades e disponibilizam para os estudantes.
- Nesse caso, a análise das fontes pode se dar de modo fracionado, como um projeto a ser desenvolvido em várias aulas. É possível, inclusive, ser trabalhado em conjunto com a disciplina de Língua Portuguesa para uma interpretação dos textos para além de seu conteúdo histórico.
Para saber mais
Negociações e Conflito; a resistência negra no Brasil escravista, de João José Reis e Eduardo Silva. Editora Cia. das Letras.
Revoltas Escravas, João José Reis. In: Dicionário da escravidão e liberdade: 50 textos críticos, de Lilia Schwarcz e Flávio dos Santos Gomes. Editora Cia. das Letras.
Essa Sugestão de Atividade foi adaptada do plano de aula “Resistência de escravizados: petições e acordos por melhores condições de vida ou liberdade (XVIII-XIX)”, produzido por Guilherme Barboza de Fraga, do Time de Autores de NOVA ESCOLA. Você pode conferir o plano original aqui.
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