Lives, site e organização: como uma escola pública está chegando ao fim de 2020
Criatividade, tecnologia e muita organização levaram a EM Walmir de Freitas a encerrar o ano com um bom índice de engajamento dos estudantes
Uma live de 1 hora de duração, pelo Facebook, na tarde do domingo 29 de novembro, foi a forma que Felipe Nóbrega, diretor da EM Walmir de Freitas Monteiro, de Volta Redonda (RJ), encontrou para contar para os alunos como se dará o encerramento do ano letivo de 2020.
Se a internet se transformou na principal ferramenta de aprendizagem neste ano, na EM Walmir de Freitas seu uso foi além: por iniciativa de Felipe, a escola conta com redes sociais ativas e um site - feito por ele mesmo - que reúne todas as informações que os estudantes precisam para se manterem na escola.
A live serviu para responder à principal angústia dos alunos: vai ter reprovação?
Por determinação da Secretaria Municipal de Educação de Volta Redonda, o primeiro bimestre do ano será desconsiderado e haverá uma média das notas obtidas nos três bimestres restantes. Quem ficar com cinco ou mais está aprovado (conceito A) e quem ficar com menos será aprovado parcialmente (AP).
Ou seja, não haverá reprovação para os alunos que participaram das atividades da escola ao longo do ano. No entanto, serão considerados evadidos aqueles que não apresentaram nada até o encerramento do ano, 4 de dezembro. Para os alunos AP, haverá recuperação e o ano termina, oficialmente, no dia 21 de dezembro. Os que continuarem com o conceito AP depois da recuperação serão promovidos para o próximo ano, mas passarão por um programa complementar de atividades no contraturno e aos sábados, de acordo com as necessidades de cada estudante.
Como disse na live um bem-humorado Felipe, quem não estudou neste ano vai precisar estudar em dobro no ano que vem. Por enquanto, o próximo ano letivo terá início em 2 de fevereiro de 2021, no formato híbrido. O programa complementar ocorrerá da mesma forma.
Engajamento no ensino remoto
Felipe conta que a escola chegou a ter um engajamento dos estudantes em 87% - considerando os alunos do ensino remoto e os que retiram semanalmente material impresso na escola, tanto apostilas quanto material avaliativo. O longo período sem aulas presenciais, porém, foi desestimulando os estudantes e hoje esse porcentual está em 74%.
Felipe reforça que a escola não desistiu de ninguém: como qualquer atividade conta para uma chance de recuperar o ano, uma minuciosa busca ativa foi feita para estimular quem perdeu o interesse no caminho e convidá-los a participar do evento que a escola preparou para o encerramento do ano.
A última chance
Na última semana de aulas regulares a escola inovou e criou a Semana Pedagógica, uma série de palestras e oficinas com o tema “Poder para o povo preto”. Além da óbvia relevância do tema e chance de os alunos expandirem seus conhecimentos, a participação nas atividades também é uma última chance para aqueles estudantes que não se engajaram ao longo do ano ganharem pontos e se tornarem elegíveis para o conceito AP. A expectativa é de que a busca ativa e as lives incentivem os alunos a participarem dos eventos da Semana Pedagógica e tenham uma chance de não perder o ano. Todas as atividades aconteceram on-line, pelo Google Meet, às 10 e às 14 horas na semana do dia 30 de novembro. Foram tratados temas como encarceramento, racismo na linguagem e bullying, entre outros.
Um evento desse porte, que contou com convidados de fora da comunidade, marca uma trajetória que começou logo que a as aulas presenciais foram suspensas. Com alguma intimidade com a tecnologia, o próprio Felipe criou o site da escola, uma espécie de central de informações com tudo que a comunidade escolar precisa para encarar o ensino remoto, como banco de aulas, acesso às aulas on-line, links para os grupos de WhatApp e tutoriais para o uso do Google Sala de Aula, plataforma adotada pela escola para o ensino remoto. “A gente precisava de um canal para centralizar tudo da escola. Aí criamos o site como um portal da escola, onde as crianças podem acessar a maior quantidade de informação possível.” Felipe usou o Google Site para desenvolvimento do site e o Canvas para as artes.
O trabalho começou três dias depois da suspensão das aulas presenciais. “A gente criou um QG na escola com os professores que tinham mais facilidade com a tecnologia para fazer o treinamento com os demais colegas”, conta. No início da pandemia, cerca de 90% dos alunos aderiram ao ensino online, número que foi caindo ao longo do tempo devido às dificuldades de acesso à internet. Para os alunos que não conseguiram manter os estudos online, a escola distribuiu, às segundas, quartas e sextas, apostilas e atividades para serem realizadas em casa, material fornecido pela Secretaria Municipal de Educação. As provas impressas são no formato de testes e corrigidas de forma centralizada e automatizada pela própria Secretaria.
“Nunca havia mexido no Google Sala de Aula”
Fabiana Soares de Guimarães é professora de Língua Portuguesa dos 9º anos da Walmir de Freitas e foi uma das docentes que se beneficiou do QG criado pela gestão da escola. “Eu nunca havia mexido no [Google] Sala de Aula, nem no Meet, não sabia fazer formulários. Então tive formações para aprender e a organização da escola contribuiu para o trabalho”, conta. “Nós, professores, pudemos nos dedicar exclusivamente à produção de materiais e ao atendimento on-line.”
A gestão da escola organizou as turmas dentro do Google Sala de Aula e criou pastas no Google Drive com o conteúdo semanal de cada turma, por disciplina, o que facilita a consulta do Google Sala de Aula. “Nossos trabalhos estão organizados no site na escola e todos nós temos acesso ao drive, pois o drive é compartilhado por área. Então podemos acessar os trabalhos a qualquer momento e compartilhar com os nossos parceiros facilmente”, afirma Fabiana.
Com mais intimidade com as plataformas digitais, Fabiana adotou os formulários do Google para aplicar o que chama de minitestes. Neste caso, as devolutivas foram feitas po meio dos feedbacks de respostas do próprio formulário. “Textos, áudios e vídeos foram corrigidos individualmente, com comentários e devolutivas. Nunca me dirigi à turma de forma coletiva, apenas quando postava as atividades. Todas a correções e comentários foram no privado. Pelo próprio Google Sala de Aula, no post da atividade, ou pelo e-mail”, acrescenta Fabiana.
Para avaliação final, Fabiana propôs atividades diferenciadas envolvendo pesquisa, produção de áudios e vídeos. “Na aula sobre textos legais e normativos fizemos um trabalho sobre o Artigo 5° da Constituição, ou outro que eles desejassem abordar. Eles deveriam gravar um áudio ou vídeo citando exemplos de situações que fugiam ao prescrito no artigo e dessem sugestões para o cumprimento da lei. Neste trabalho, uma aluna pesquisou sobre a Lei Maria da Penha e nos surpreendeu com seu engajamento”, conta a professora.
Na Semana Pedagógica, a atividade proposta em Língua Portuguesa é a de que os alunos reecrevam a Lei Áurea de modo a atenuar as mazelas da escravidão e também a ajudá-los a entenderem o porquê de termos leis étnico-raciais atualmente. Logo mais ela iniciará a avaliação destes últimos trabalhos do ano.
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