Os desafios dos professores para fechar o calendário escolar em 2020
Pandemia desafia educação pública a buscar soluções para se organizar, avançar na aprendizagem dos alunos e evitar a evasão escolar
O fechamento de um ano letivo implica uma série de burocracias e procedimentos que por si só geram tensão e correria para gestores e professores.
Neste ano, somam-se a isso as dificuldades para atribuir conceitos de desempenho aos alunos que, em grande parte, não puderam ter acesso pleno aos conteúdos e atividades propostas pelas escolas.
Diante de mais esse desafio e das incertezas para 2021, como encerrar o ano letivo e se preparar para o próximo?
“As burocracias educacionais não foram alteradas neste período remoto, colocando o professor num percurso de ter de entregar notas, fazer provas, correções e mais correções, como se estivesse no presencial”, lembra a educadora Renata Capovilla, cofundadora da Íntegra Educacional.
Como avaliar o que os alunos aprenderam na quarentena e no ensino remoto em 2020
Se o calendário educacional e as obrigações não se alteraram, o principal desafio é conseguir compreender o que os alunos atingiram ou não, porém, não estando no controle ou na presença do que estão apresentando.
Portanto, mais que nunca, é necessário avaliar se as habilidades foram desenvolvidas e não apenas o domínio de conteúdos. “Repensar a educação neste momento é como trocar o pneu de um carro em movimento, mas é necessário e trará uma nova visão vários aspectos educacionais, incluindo o ato do que é avaliar”, compara Renata.
Independentemente do caminho de avaliação escolhido e do modelo de ensino que será adotado em 2021, é preciso reconhecer como os alunos voltarão para a escola e o que esperam dela.
“Precisamos ouvir o que aprenderam, o que sentiram, o que pensaram. Não podemos simplesmente retomar de onde parou, a partir de uma avaliação de conteúdos aprendidos e não aprendidos. Precisamos fazer desse momento a retomada do desejo de aprender, desejo de transformação”, afirma Tereza Perez, diretora da Comunidade Educativa CEDAC.
Avaliação diagnóstica na pandemia
A avaliação diagnóstica é um bom caminho para compreender avanços e lacunas ao longo do atípico 2020. No entanto, a falta de contato direto com os alunos é um forte dificultador e varia de acordo com a realidade em que cada escola está inserida. De acordo com a pesquisadora e educadora Kátia Chiaradia, a falta de contato dos professores com seus alunos é constante e mais gritante em regiões como periferias urbanas e zonas rurais, onde o acesso à tecnologia criou lacunas de contato de até dois meses.
Mas há também certa ingerência das famílias, que acabam por ajudar os filhos nas tarefas. “Mesmo em sua imensa boa vontade, as famílias por vezes não compreendem o valor que o erro tem. Mas sem os erros, os professores não sabem por onde caminhar. O erro é o início do acerto para os alunos e o GPS para professores”, afirma Kátia. Neste sentido, ampliar o diálogo com as famílias é essencial para mostrar a importância que as atividades pedagógicas têm para uma avaliação assertiva da aprendizagem de cada aluno.
Em realidades tão discrepantes, infelizmente, não existem fórmulas prontas e as possibilidades e sensibilidade de cada professor devem ditar esse processo. “É preciso considerar a realidade de cada escola, cada turma, cada professor”, reforça Kátia. Ela lembra que algumas redes e escolas já fizeram priorização curricular em 2020 e estão olhando para 2021 há alguns meses a partir disso. Outras, contudo, e essas são a maioria, estão organizando as aprendizagens dos alunos, de modo que possam ser compreendidas da perspectiva da gestão, para, só então, pensarem as aprendizagens para 2021.
Para Renata, as avaliações diagnósticas devem ser pensadas com toda atenção ao que foi desenvolvido no ano anterior. "É claro que se espera perder o menos possível durante qualquer ano letivo, mas esse, em especial, apresentou muitas peculiaridades. É preciso o professor compreender o que o aluno mobiliza a partir do que aprendeu, ou seja, deve ser focada na aprendizagem e não na "ensinagem", defende. Mais uma vez o repensar este momento educacional e todo o processo pelo qual já deveríamos ter tido olhar cauteloso, mesmo antes da pandemia, de que não devemos pensar em conteúdos, mas sim, nas habilidades que esse aluno desenvolve ao longo de um período, como já apresentado pela Base Nacional Comum Curricular anteriormente.
Para Kátia, um dos caminhos são os Mapas de Foco do Instituto Reúna, um documento para apoiar gestores na priorização de currículos. A educadora sugere que também professores façam uso da lógica desse documento, que é identificar as aprendizagens focais, ou seja, os passos inegociáveis no circuito de aprendizagem dos alunos, porque são aqueles que traçam a linha da progressão ano a ano.
“Minha sugestão, portanto, é que as avaliações diagnósticas, neste momento de transição curricular, se ocupem de olhar para as aprendizagens focais”, explica. Mais tarde, num segundo momento, será possível ampliá-las para todas as habilidades. “Agora, ainda em meio a uma pandemia, não é possível, lógico ou funcional querermos identificar para além das aprendizagens focais”, afirma.
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