Como levar datas e efemérides de 2021 para os alunos - sem cair no superficial
Planejamento e intencionalidade pedagógica são a chave para que elas não sejam trabalhadas de forma estereotipada ou desconectada do currículo escolar
Janeiro é mês de elaborar o planejamento de 2021. É um bom momento para a equipe escolar definir conteúdos que considere ser prioritários para o currículo dos alunos, nos mais variados componentes curriculares e etapas.
Há várias maneiras de começar a planejar. Uma delas é considerar quais datas comemorativas, marcos históricos e efemérides terão destaque no ano que se inicia. Elas podem trazer inspirações para as propostas, que se tornam mais “quentes” - isto é, mais conectadas com o noticiário, as conversas de corredor, a vida em família. Mas de que maneira datas e efemérides podem ser bem aproveitadas? Quais os caminhos para levar esses temas às salas de aula sem cair na superficialidade ou gastar tempo com projetos sem sentido, desconectados das necessidades dos alunos?
Em qualquer etapa, o planejamento e a intencionalidade são essenciais para que as ações não sejam meramente intuitivas, soltas ou descontextualizadas. É o que reforça Denise Rampazzo, doutoranda em Educação e professora do Instituto Singularidades. “Vivemos em uma sociedade em que muitas datas se prestam ao movimento do comércio. A escola não está imune ao que acontece na sociedade, mas o papel dela não é promover datas comemorativas, e sim, a construção de conhecimento”, afirma.
“A questão é que, muitas vezes, essas datas são comemoradas sem a devida reflexão, ou de uma maneira estereotipada”, diz Rita de Cassia Gallego, doutora em Educação pela USP e pesquisadora de cultura escolar e organização do tempo na escola. Segundo a pesquisadora, o calendário escolar é um retrato da sociedade em que vivemos, em termos históricos, econômicos, sociais e culturais - e isso não é ruim. O importante é que, ao transpor as efemérides para as aulas, é fundamental trabalhar com a valorização da memória do país e da memória local, da cidade ou do estado em que vive a comunidade escolar, já que esses marcos constituem a história nacional e, em alguns casos, do mundo.
Para dar indicações mais práticas a respeito da prática de aproveitar datas e efemérides, as especialistas ouvidas por NOVA ESCOLA responderam a três perguntas básicas, que muitos professores e gestores se fazem - e é provável que este seja o seu caso.
Afinal, como associar datas e efemérides ao currículo?
Um bom ponto de partida é se perguntar se a data realmente ajuda a desenvolver as habilidades e competências de que a turma precisa ou se está apenas “entrando à força” no planejamento. Pare e pense com calma se a data tem ligação com a proposta da escola; se vai resultar em aprendizagem ou servirá apenas para agradar às famílias; se tem caráter meramente social ou resultará, de fato, em construção de conhecimento.
É importante fazer isso de forma interdisciplinar?
Para as especialistas, temas relacionados a datas e efemérides devem estar presentes nos conteúdos durante todo o ano, em consonância com cada etapa de ensino e, de preferência, de forma interdisciplinar. A sugestão é que os professores olhem para o calendário e pensem nas possibilidades de associar os temas aos conteúdos previstos. Em seguida, a ideia é que pensem, conjuntamente, um trabalho que envolva atividades coletivas entre os componentes curriculares.
Quais os cuidados devem ser tomados?
A primeira preocupação deve ser a de não empobrecer ou esvaziar o sentido daquela memória ou comemoração. Um exemplo disso é o Dia do Índio, celebrado em 19 de abril, que muitas vezes se reduz à produção de cocares de papel e pinturas no rosto à tinta guache, práticas que caem no erro de projetar, diante das crianças, uma série de estereótipos sobre os povos indígenas. Segundo Denise Rampazzo, as questões relacionadas a essa data devem permear o currículo de todo o ano e focar em pontos como as lutas desses povos por seus direitos fundamentais.
Outro ponto para ficar atento é em relação a datas religiosas. Pela Constituição Federal, o Brasil é um país laico e a escola pública, em tese, não deveria favorecer esta ou aquela religião, uma vez que a instituição precisa acolher igualmente alunos com diferentes visões de mundo. Para ampliar o repertório da turma, o professor pode buscar datas que não estejam limitadas à tradição cristã e trazer a história de outras tradições religiosas, além de promover rodas de conversa sobre o respeito aos diferentes credos.
Ilustrações: Veridiana Scarpelli/NOVA ESCOLA
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