Para aprender sobre a prática

O Eu, o Outro e o Nós: o campo da alteridade

A construção da identidade, da subjetividade, das relações interpessoais e do respeito próprio e coletivo está entre os objetivos propostos pela BNCC

Crianças do Ceci/Unicamp brincando com as formigas de pano, mascotes da turma. Foto: Ricardo Lima/NOVA ESCOLA

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) deu um salto histórico ao reconhecer a Educação Infantil como essencial para o desenvolvimento dos bebês e das crianças. Uma das novidades do documento, que entrou em vigor em 2020, são os Campos de Experiência, que enfatizam quais são as noções, habilidades, atitudes, valores e afetos fundamentais para que os pequenos aprendam e se desenvolvam no ambiente escolar.

Os cinco campos estão organizados de forma a apoiar você, professora, no planejamento de sua prática intencional, que deve sempre considerar os seis direitos de aprendizagem determinados pela BNCC: conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se. É também importante entender que as atividades desenvolvidas com os bebês e as crianças podem e devem englobar mais de um campo – tudo depende da proposta e da criatividade dos educadores. 

O primeiro campo proposto pela BNCC, O Eu, o Outro e o Nós, centra-se na construção da identidade, da subjetividade, das relações interpessoais, do respeito próprio e coletivo e da sensação de pertencimento a um grupo. Wagner Priante, especialista em Arte-Educação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), explica que nesse campo os pequenos são convidados a reconhecer que pertencem a um grupo social e a “compreender que há diferentes modos de dizer, de fazer, de querer, de ser, além da importância de respeitar as diferenças”, destaca. Diz o texto da Base:

"É na interação com os pares e com os adultos que as crianças vão constituindo um modo próprio de agir, sentir e pensar e vão descobrindo que existem outros modos de vida, pessoas diferentes, com outros pontos de vista. Conforme vivem suas primeiras experiências sociais (na família, na instituição escolar, na coletividade), constroem percepções e questionamentos sobre si e sobre os outros, diferenciando-se e, simultaneamente, identificando-se como seres individuais e sociais. Ao mesmo tempo que participam de relações sociais e de cuidados pessoais, as crianças constroem sua autonomia e senso de autocuidado, de reciprocidade e de interdependência com o meio. Por sua vez, na Educação Infantil é preciso criar oportunidades para que as crianças entrem em contato com outros grupos sociais e culturais, outros modos de vida, diferentes atitudes, técnicas e rituais de cuidados pessoais e do grupo, costumes, celebrações e narrativas. Nessas experiências, elas podem ampliar o modo de perceber a si mesmas e ao outro, valorizar sua identidade, respeitar os outros e reconhecer as diferenças que nos constituem como seres humanos."

BNCC, disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/#infantil/os-campos-de-experiencias. Acesso em: 3 de setembro de 2020.

Amigas formigas

Como tudo é muito novo, o caminho para concretizar essa teoria na prática ainda está sendo construído por muitas educadoras em todo o Brasil. Em Campinas (SP), para ajudar as crianças bem pequenas a se entenderem como seres individuais e coletivos, as educadoras Adriely Quental e Melina Silva promoveram uma votação para escolher um animal para batizar a turma no Centro de Educação e Convivência Infantil (Ceci)/Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Para surpresa das educadoras, os pequenos escolheram a formiga. Com a ajuda das famílias, foram confeccionados mascotes para cada criança, usados diariamente em atividades. “As crianças seguram suas formigas na roda, enquanto cantamos e contamos quantas crianças vieram naquele dia e o que vamos fazer no dia. Também conseguimos conversar sobre as diferenças de uma formiga para outra”, contam as educadoras.

A atividade ajudou as crianças a se sentirem mais acolhidas no ambiente da creche, fortaleceu a segurança em si mesmas e a noção de coletividade, de que as ações interferem no ambiente e nos sujeitos. Além disso, o trabalho aproximou as famílias do trabalho pedagógico das educadoras.


Conteúdo publicado originalmente em NOVA ESCOLA BOX no dia 15 de outubro de 2020. O texto foi reeditado e sofreu alterações.

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